Num mundo globalizado, conectado, há muitas possibilidades. O que mais marcou essa nossa época é a abertura e expansão das inúmeras escolhas que podemos ter. Várias são as possibilidades de formação acadêmica, de profissão, investimentos financeiros, mudanças de vida, mudanças de locais de moradia, de países e continentes.
Costumo fazer a analogia de uma “fictícia sorveteria”. Até os anos 1980, ou 1990, aproximadamente, nossas vidas funcionavam como numa “sorveteria de dois sabores”. Ou você escolhe um, ou outro sabor. Havia poucas possibilidades de escolha, a vida era mais simples, mais linear, poucas novidades, vida mais monótona às vezes, mas previsível.
Na pós-modernidade, era da qual vivemos hoje, é como se vivêssemos numa “sorveteria com milhões de sabores”. Posso provar todos esses sabores o quanto eu quiser, onde quiser, como eu quiser. Mais liberdade? Sim! Mais opções e possibilidades? Eba!! Mas junto a essas “pseudo-infinitas” possibilidades, vieram a comparação, a competição, a angústia. Essa angústia que muitas vezes é mobilizada pela necessidade auto-imputada de querer “provar todos os sabores antes de morrer”. Morrer? Jamais! Não dá tempo, preciso provar tudo nesta vida, com múltiplas possibilidades.
Aumentando-se as possibilidades de escolha, aumentam-se concomitantemente as possibilidades de “não escolha”. Aumentam-se as situações onde precisarei “abrir mão”, deixar de lado muitos, muitos mesmo, sabores não provados, não vivenciados. Quando alguém sai de uma metafórica sorveteria com dois sabores, ele escolhe um sabor e sai satisfeito. Ao sair da mesma sorveteria, agora com milhares de sabores, ele sai dela, muitas vezes, se sentindo “não bom o suficiente” para ser amado, para ser aceito, para viver pertencente a este mundo de tantos sabores. Isso porque a sensação daquilo que se “abre a mão” é maior do que as escolhas feitas. Escolher torna-se um fardo.
Alguns tornam-se ansiosos por quererem escolher “todos os sabores”. Como isso é impossível, a busca por todos os sabores torna-se seu pesar eterno. Já outros desistem de “todos os sabores” e “deixam assim tudo como está”, vivendo de maneira excessivamente passiva frente às adversidades e trazendo consigo um sentimento de falta, deprimidos.
Então poderíamos concluir que não vale a pena vivermos num mundo de “tantos sabores”, tantas possibilidades? É relativo. Num mundo com tantas possibilidades, o “meio termo” é o que lhe trará saúde mental, a partir do autoconhecimento dos seus próprios limites, sabendo (e aceitando) que não dá para tomar todos os sabores disponíveis, mas também que não é bom desistir de todos eles. Esse meio termo, além do autoconhecimento, virá do seu propósito de vida, suas metas, aliados aos seus valores pessoais, de forma a saber qual o seu limite de tolerância ao novo, junto com a preservação da sua identidade. Assim, ter vários sabores numa sorveteria é excelente, desde que eu saiba qual o meu propósito ao provar alguns deles.