Projeto Humanidade 21, criado após “provocação” deste diário, identifica mortos desconhecidos

De iniciativa do delegado Everson Aparecido Contelli, plano foi instituído nas regiões de Presidente Prudente e São José do Rio Preto a partir de duas portarias da Polícia Civil

REGIÃO - MELLINA DOMINATO

Data 06/07/2024
Horário 04:00
Foto: Redes sociais/Reprodução
Criador do projeto, Everson coordenava a UIP da Polícia Civil de Prudente
Criador do projeto, Everson coordenava a UIP da Polícia Civil de Prudente

Atual delegado seccional de Fernandópolis, na região de São José do Rio Preto, Everson Aparecido Contell, que até o ano passado coordenava a UIP (Unidade de Inteligência Policial) da Polícia Civil de Presidente Prudente, está à frente do projeto Humanidade 21. Criado a partir de uma provocação de O Imparcial, que noticiou em fevereiro de 2023, que Prudente somava 83 pessoas enterradas sem serem identificadas por órgãos oficiais, o trabalho é desenvolvido desde dezembro de 2023, e determina a realização de autoria qualificada em todos os casos de pessoas mortas desconhecidas, utilizando ferramentas tecnológicas a fim de chegar à identificação dos cadáveres e “reconstruir um mínimo de dignidade àquelas famílias em momento doloroso, em que sequer têm conhecimento sobre o óbito de entes queridos”. A partir do plano, três mortos já foram identificados: um da região de Fernandópolis e dois no oeste paulista. 

O programa foi instituído oficialmente a partir de duas portarias normativas da Polícia Civil, uma da UIP de Presidente Prudente e outra da Delegacia Seccional de Fernandópolis, em ambas as regiões. “O despretensioso projeto, que inicialmente buscava reconhecer uma vida, em poucos meses alcança três famílias e, ainda que pouco em termos científicos, mostra um caminho para adoção da metodologia de trabalho para o restante do país, caso Estados e União se interessem pela semente depositada pela Polícia Civil em nossa região”, comenta Everson.

“O projeto, que pretende descortinar a realidade dos mortos desconhecidos no Brasil, inicialmente analisa as mortes de pessoas desconhecidas, denominadas nos arquivos públicos do país como óbitos desconhecidos, ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2000, daí o nome Humanidade 21 e seu braço Cyber_Humanidade 2”, ainda explica o delegado.

Extensão em âmbito internacional

Paralelamente à coordenação do Humanidade 21, Everson, que é doutor e mestre em Direito pela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), desenvolve uma frente de trabalho acadêmico que visa criar uma espécie de “Regime Jurídico Próprio dos Mortos Desconhecidos”. As pesquisas são realizadas na Universidade Brasil, campus de Fernandópolis. 

“Os números do país causaram perplexidade e, além de colocar em prática o projeto Humanidade 21 dentro da Polícia Civil de São Paulo, que acaba de conectar três famílias de desaparecidos com três óbitos desconhecidos, a preocupação, agora, em termos acadêmicos, e com possibilidade de alcance social, está no desenvolvimento de um projeto para defesa científica acadêmica de um Regime Jurídico Próprio de Proteção a todo ser humano [morto desconhecido], assim como a propositura de medidas para corrigir este incompreensível estado de coisas que ocorre não apenas no Brasil, mas em toda América Latina”, ressalta.

“Praticamente todos os municípios do Brasil têm mortes desconhecidas e a metodologia pode ser empregada em qualquer rincão do território, bastando, para tanto, uma equipe de policiais civis motivada e o acesso às possibilidades tecnológicas, de inteligência e de investigação criminal dialógica, a exemplo do que é possibilitado pelo governo do Estado de São Paulo aos seus policiais civis”, finaliza o delegado.

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