Projeto “Baleia à Vista”: um trabalho de apoio à ciência

Júlio Cardoso conta que como tem barco e navega bastante, começou a fazer isso por hobby, mas virou, até hoje, um trabalho de pesquisa

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 11/01/2022
Horário 08:23
Foto: Júlio Cardoso
“Cada uma tem a sua digital que é detectada pela foto; as jubartes pela cauda”, diz Júlio Cardoso
“Cada uma tem a sua digital que é detectada pela foto; as jubartes pela cauda”, diz Júlio Cardoso

Júlio Cardoso, que é do projeto “Baleia à Vista” do Brasil, trabalha desde 2004 com monitoramento de baleias e golfinhos, na região do litoral norte de São Paulo, Ilhabela e São Sebastião,, principalmente, diz que tudo que faz é por paixão, por amor! Ele conta que como tem barco e navega bastante, começou a fazer isso por hobby, mas virou, até hoje, um trabalho de pesquisa, de apoio à ciência. 
“O trabalho que eu exerço se chama ‘Ciência Cidadã’ em que faço todos os levantamentos e o pessoal que pesquisa usa para estudar, conhecer, fazer publicações... E a gente conseguiu desenvolver um monte de informações que não existiam sobre as baleias e golfinhos que aparecem por aqui”, expõe Júlio. 
Além disso, ele menciona que têm parceiros que possuem veleiros e que fazem navegações até a Antártica. “Então desde 2016 a gente vem com a ajuda deles que vão pra lá e fazem fotos das jubartes e nos trazem informações. Com isso temos um catálogo de várias espécies de jubarte, e de outras, como as orcas e golfinhos de todas as espécies”, salienta.
Ele diz que a Antártica é um local para comer, uma área de alimentação e a baleia jubarte faz uma imigração incrível. “Ela se alimenta lá e vem reproduzir nas águas quentes do litoral da Bahia, passando aqui por nossas regiões. Todo ano ela faz isso. Vai pra lá para alimentação e vem pra cá para reprodução”, frisa.

 

Descobertas incríveis

Júlio explica que esse trabalho de pesquisa é baseado em foto identificação. Cada baleia tem a sua própria. No caso das jubartes, eles fazem a identificação pelo desenho da cauda que na parte inferior existem marcas, cores, que é como se fosse a digital delas. Então, “quem consegue fotografar a cauda de uma jubarte é o máximo! Cada vez que mergulha ela levanta a cauda, ai você pah, tem que fazer a foto. E, através de um aplicativo, um programa como esses de banco que fazem a identificação facial provar que essa baleia que esteve aqui e depois estava em outro ano, num outro momento em um lugar diferente”, explica.
No caso do Adriano Kirihara, Julio conta que ele foi no veleiro Fernande, com o Charlie, comandante do barco, o André Dib, um baita fotógrafo e quem conduziu a expedição, e outros cinco fotógrafos. “Eles e outros colegas também já fizeram fotos que usamos. Já fizemos descobertas incríveis pelas fotos deles lá na Antártica, inclusive, uma baleia que era muito conhecida e vinha pra região de Abrolhos que foi vista na Antártica já do lado do Pacífico, ou seja, elas são populações diferentes, mas que ao longo do tempo estão se misturando”, salienta Júlio, acrescentando que algumas daqui acabam indo para o Pacífico, e outras de lá vindo pra cá. 
“O que era algo que ninguém sabia e também algo novo, porque não era conhecido. No caso dessa baleia que o Adriano fotografou, o interessante é que ele a registrou em 2019, e dias atrás ela foi fotografada novamente na península Antártica já do lado onde fica a população do Pacífico. Então é muito provável essa é uma baleia que frequenta o Pacífico, se alimenta na Antártica e depois sobe lá pelo lado mexicano até o Panamá””, destaca, enfatizando que “isso é muito importante porque dois anos depois ela estava quase exatamente no mesmo lugar. O que significa que são fiéis ao local”. 

 

Um RG das baleias

Com isso, conforme Júlio, começam a descobrir o comportamento delas. E da maneira mais simples, através da fotografia. Ele conta que usam uma plataforma chamada Happywhale, que é um programa feito por um pessoal da Califórnia onde conseguem pegar fotos de todos que viajam, navegam em navios, para o mundo inteiro. “Eles têm mais de 50 mil fotos. Já identificamos muitas das nossas que passam aqui depois aparecem em Abrolhos, Santa Catarina, enfim, é um trabalho de formiguinha que todos os fotógrafos fazem e mandam para os californianos”, cita. 
Esse trabalho que fazem com as jubartes, que identificam pela cauda, outras espécies são feitas pelas nadadeiras dorsais, as orcas, por exemplo, por aquelas marcas escuras na parte do seu dorso, as manchas brancas perto do olho. “Cada uma tem a sua digital que é detectada pela foto. Como a fotografia de um RG [risos]. Isso ajuda a gente desenvolver planos para proteção dessas baleias. Aquela região onde ela foi fotografada é o lugar que elas se alimentam, então precisa ser protegida, muito cuidada, não pode ter pesca e tal porque é onde elas se alimentam. E nos lugares que elas frequentam muito também”, enfatiza Júlio. 


 

 

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