A pandemia do novo coronavírus exigiu mudanças na forma de trabalho, e na área da educação não foi diferente. Adaptada a uma nova modalidade de ensino (o remoto), as residências de alunos e professores se transformaram em salas de aula, sendo mantido o contato entre eles diretamente pela internet. Mas o cenário não tem sido fácil, assim como relatado por docentes da rede municipal de Presidente Prudente, que procuraram a reportagem para falar sobre a situação vivenciada por eles.
Márcia Helena Areias Bravo, 48 anos, representante de um grupo de professores, afirma que, desde o início da pandemia, observou que muitos colegas de trabalho tiveram dificuldades para se adaptarem a uma nova forma de ensinar, principalmente aqueles que não tinham contato frequente com a tecnologia. Isso porque o ensino remoto exigiu dos profissionais a capacidade de buscar formas de tornarem as aulas mais interativas, que não fossem somente enviar textos e atividades escritas.
Para tanto, alguns, como no caso de Márcia, precisaram investir em computadores e celulares com maior capacidade de memória para produzir e transmitir conteúdos. “Dou aula no meu quarto. Tive que aumentar a velocidade da internet e comprar até um celular novo para suportar os arquivos que chegam, como vídeos, que sobrecarregam o equipamento”, afirma. “Quando você vai desenvolver uma aula, disponibiliza acesso a uma história, música, brincadeira. É complicado, porque nós temos que baixar e assistir, leva até mais horas de dedicação”, explica.
“Estamos sustentando a educação desde o início da pandemia. Somos nós que temos que comprar equipamento, aumentar a internet”, expõe Márcia. Mesmo diante dessas dificuldades, afirma que todos têm trabalhado com empenho, a fim de levar qualidade e “oferecer o melhor”. “É esse pensamento que precisamos ter. Já é difícil o distanciamento, estar dentro de casa. Mas, precisamos levar o melhor para o aluno”, salienta a professora.
Durante a entrevista, a porta-voz aproveitou para fazer um desabafo em nome do grupo, que cobra da Seduc (Secretaria Municipal de Educação) algumas questões, como o curso de formação para o trabalho remoto, a participação da categoria na tomada de decisões sobre as formas de trabalho na pandemia, e a comunicação direta da secretaria para com os professores e funcionários. “Tive uma reunião com famílias, e uma mãe fez o mesmo apontamento, de que a gente só fica sabendo das coisas pela imprensa”, expõe Márcia.
Inclusive, conforme a professora, o início dos agendamentos de plantões para alunos com dificuldades de aprendizagem e sem acesso à internet, só chegou ao conhecimento da categoria após reportagem divulgada na mídia. “São situações que precisam ser resolvidas”, considera. O grupo entende a necessidade do trabalho online na pandemia, mas está preocupado com o possível retorno presencial. “Faltaram doses de vacina para os profissionais acima de 47 anos, tem professores mais jovens morrendo”, lamenta. “Vamos voltar? Vamos! Mas é preciso buscar esse equilíbrio, entre a segurança, a preparação e a vacinação de todos, que envolve os profissionais, alunos, famílias, a sociedade em geral”.
A advogada Thais Bravo Damasceno Guerra, 33 anos, mãe do Miguel, 5 anos, concilia o trabalho com o ensino do filho. “A maior dificuldade é fazer com que a criança se concentre, porque em casa a gente não está capacitado para ensinar. A aula vem gravada, também precisamos imprimir o material. No meu caso, tenho impressora, e aqueles que não têm?”, lamenta.
Juliana da Costa Cares, 39 anos, é mãe do João Pedro, 5 anos. Assim como muitos pais, precisou se tornar “professora” dentro de casa. “O ensinamento dos professores e da mãe é diferente, mas precisamos ensinar, auxiliar”, afirma. “As escolas não estão preparadas para o retorno, até que todos os professores e funcionários sejam vacinados”, considera.