Quando começamos a trabalhar no setor de gerenciamento de riscos e seguros, uma das primeiras coisas que aprendemos é que, de tempos em tempos, o mundo será fortemente impactado com algum evento de escala global, como uma catástrofe natural ou uma grave recessão econômica.
No passado, isso não era algo tão frequente, tanto que essas ocorrências eram chamadas de “Eventos de 100 anos”, impactando o mundo em intervalos de um século.
Só que, atualmente, essa tendência mudou e suas sazonalidades também. Os eventos, que antes ocorriam a cada século estão mais frequentes. Podemos até dizer que, daqui para frente, vamos lidar com “Eventos de 50 anos” ou, até mesmo, “Eventos da década”. Basta fazermos uma retrospectiva para vermos como as duas primeiras décadas do século XXI já mudaram completamente essa perspectiva.
Em 1918, tivemos a gripe espanhola e, um século depois, a Covid-19. A Guerra na Ucrânia levou a Europa novamente a um estado de beligerância depois de um intervalo de quase 80 anos. A última grande crise econômica global que tivemos foi em 2008, resultado da bolha imobiliária norte-americana, há cerca de 15 anos.
Quando avaliamos do ponto de vista das mudanças climáticas, os intervalos são ainda menores. Se considerarmos apenas os ciclones que atingiram a Flórida, nos Estados Unidos, na categoria 5 (a pior), foram dois em um intervalo de 13 anos: Katrina, em 2005, com danos de US$ 125 bilhões, e Michael, em 2018, com danos de US$ 25 bilhões.
Nesse sentido, analisando 2022, que terminou agora, e 2023, que está começando, podemos dizer que uma “Tempestade Perfeita”, que é quando uma situação, normalmente não favorável, é drasticamente agravada pela ocorrência de uma rara combinação de circunstâncias, está se formando.
Na Europa, estamos vendo a continuidade da Guerra da Ucrânia. No Brasil e em alguns países da América Latina, uma forte polarização política, que está trazendo desdobramentos imprevisíveis. A pandemia da Covid-19 ainda não acabou, impactando fortemente a China. O mundo, em si, também está testemunhando uma inflação global nunca vista por países com economias avançadas. E, circundando tudo isso, temos as mudanças climáticas, que frequentemente dão às caras, trazendo consequências imprevisíveis.
Mas, apesar desse quadro preocupante, não devemos nos entregar ao desespero. É verdade que precisamos encarar a situação com atenção, cautela e prudência, mas também é importante vê-la como uma oportunidade e de forma otimista, principalmente para nós, brasileiros, que já estamos acostumados a lidar com “tempestades” desse tipo.
Para citar apenas dois exemplos, na Alemanha, desde a década de 50 não se via uma inflação acima dos 10%, algo que, infelizmente, o Brasil já viu. Diversos países da Europa precisaram racionar o uso do gás natural, por conta de problemas de abastecimento energético como resultado da Guerra na Ucrânia, algo que os brasileiros já tiveram que fazer mais de uma vez, principalmente nos períodos de estiagem.
Os nossos executivos, de todos os setores e áreas de atuação, independente do porte, pela nossa própria vivência, são extremamente capacitados e preparados para lidar com essas adversidades. Ou seja, temos muito a ensinar ao resto do mundo, basta que não fiquemos parados.
Não podemos abraçar a inércia, mas adotar posturas mais ativas e combativas. Adotar as práticas ESG será cada vez mais relevante para subscrição de riscos, principalmente quando falamos no quesito governança e conselhos de administração e no aprimoramento da reputação. Olhar para seus colaboradores, promovendo a diversidade e oferecendo benefícios que garantam a retenção de talentos será fundamental. Avaliar riscos e oportunidades garantirá a continuidade das operações.
A “Tempestade Perfeita” chegou, mas enquanto alguns ficam tomando chuva, sem saber para onde correr, nós temos a oportunidade de mostrar o que sabemos e sair na frente, iniciando um lucrativo mercado de venda de guarda-chuvas.