As altas consecutivas nos preços dos alimentos, combustíveis e bens de consumo sufocam a qualidade de vida do trabalhador brasileiro. Desta vez, um fragmento dessa alta é o custo da cenoura, que tem assustado os consumidores que se deparam com preços que variam de R$ 10 a R$ 14 no quilo da raiz nos mercados e feiras, em Presidente Prudente. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), realizado mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que a raiz tuberosa sofreu a maior alta entre os alimentos, uma inflação de 45,65% em relação ao mês anterior.
A reportagem questionou alguns consumidores, em um supermercado atacadista, em Presidente Prudente, sobre a alta no preço da cenoura. Enquanto acabava de colocar duas unidades da raiz tuberosa na sacola, o representante de vendas do frigorífico Marba, Gilberto Pereira Casusa, conta que tinha como costume pegar uma quantidade maior, porém, diante do preço atual da cenoura está inviável. “Eu costumava pegar um pouco mais. Hoje pego duas só [sic], para ter dois dias em casa e, depois, voltar para ver se encontro um preço melhor. E olha, não só da cenoura, o preço do tomate também está um absurdo”, expõe Gilberto, e conclui que o custo da cenoura atualmente é, inclusive, tema de reuniões em seu trabalho. “Na nossa reunião matinal na empresa que trabalho, o pessoal fala: ‘os produtos que nós vendemos hoje estão mais em conta que o 1kg de cenoura. Então, tá [sic] complicado. Estou só comprando o básico mesmo”, completa.
A dona de casa Iraci Furquim circulava pela seção de hortaliças do mercado e acabou selecionando a beterraba ao invés da cenoura. “[A beterraba] tá [sic] cara também, né? Mas está mais em conta que a cenoura, então, a gente tem que ir substituindo”.
Para entender os motivos da disparada do custo da cenoura a partir da perspectiva de um especialista, a reportagem conversou com o professor de Agronomia e pesquisador em produção e melhoramento de hortaliças na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Edgard Henrique Costa Silva.
Ele relata que, primordialmente, os preços estão altos pela questão de oferta e demanda e explica que a cenoura é produzida em regiões específicas do país, as quais foram afetadas pela grande quantidade de chuva nos meses iniciais de 2022. “Mais da metade da cenoura vem de Minas Gerais, que teve muitos problemas com excesso de chuva, mas outros Estados produtores também foram afetados, como Espírito Santo e São Paulo”, indica Edgard. “Isso [o excesso de chuvas] impede que as colhedoras entrem na lavoura e, desta maneira, diminui a qualidade da cenoura pelo excesso de umidade no solo. Então, diminuindo a disponibilidade no mercado, aumenta o preço”, elucida o pesquisador, e aponta que com o aumento do custo da hortaliça, os produtores devem aumentar a área plantada, o que regulará o preço, porém atenta que o custo “também será regulado pelos preços dos insumos, principalmente dos fertilizantes”, devido à grande dependência do mercado brasileira em relação à Rússia e, também, à Ucrânia.
O produtor rural de Regente Feijó, Marcos Querubim, assim como Edgard, relata que o preço da hortaliça está em alta por conta das chuvas que afetaram a produção em Minas Gerais e, também, pontua que na região do oeste paulista a cenoura começa a semear entre fevereiro e março, e especula que em 30 ou 40 dias os preços devem diminuir. “A cenoura está semeando. Aqui para a gente é uma cultura de inverno. Como a gente não tem altitude e é muito quente, ela semeia melhor quando clima está mais ameno. Acredito que daqui 30 ou 40 dias o preço da cenoura vai começar a cair”, indica Marcos.
