A greve dos caminhoneiros na região, ao que tudo indica, chegou ao fim após dez dias de paralisações, no entanto, os setores afetados pelos reflexos do manifesto ainda levarão alguns dias para reestabelecerem normalmente as atividades. No começo da tarde de ontem, a Polícia Militar Rodoviária registrava pontos de manifestação apenas em Presidente Prudente, em um local, e em dois pontos de Dracena. “Estivemos nas duas cidades, pois recebemos ligações via 190 de caminhoneiros que queriam ir embora, ou passar pelo local, e estavam sendo compelidos. Nosso papel foi o de garantir o direito daqueles que queriam deixar o manifesto”, informa o tenente da Polícia Militar Rodoviária, Daniel Martins. Após a conversa, durante a tarde, não havia mais pontos de paralisações na região e os cerca de 300 caminhoneiros que estavam em Prudente haviam deixado o local, conforme a corporação.
Na maior cidade do oeste paulista, onde os protestos se concentraram no perímetro urbano da Rodovia Raposo Tavares (SP-270) e na Avenida Joaquim Constantino, o número de participantes começou a diminuir e trabalhadores do setor sentiram o enfraquecimento da mobilização nos últimos dias. Conforme noticiado por este diário, o primeiro dia de ato na região contou com manifestações em cinco cidades, com cerca de 200 motoristas, que subiram para nove cidades no segundo dia e 690 veículos, e que chegaram ao oitavo dia, segunda-feira, em 15 cidades e 610 veículos. Na terça-feira, o ato perdeu força, possivelmente por concordarem com as propostas oferecidas pelo governo, e encerrou o fim da manhã de ontem, com um ponto em Prudente e dois em Dracena antes do término total.
A corporação militar, ontem, durante a conversa in loco com os motoristas, informou que todos os caminhoneiros interessados em prosseguir com o trajeto poderiam contar com o apoio das equipes, a fim de passar ou sair do local em segurança. Um dos porta-vozes da categoria em Prudente, o empresário do ramo de transporte, José Roberto de Oliveira Sousa, no entanto, reuniu os participantes na manhã de ontem, para orientá-los a continuar no movimento, uma vez que a desmobilização invalidaria todos os dias de manifestação transcorridos. “Se for para sairmos daqui de mãos atadas, então nem deveríamos ter parado. O que o governo nos prometeu não passa de palavras e, agora, o que ele quer é nos desestabilizar. Sei que a situação não é confortável para ninguém, estamos exaustos e desgastados, mas é preciso que acalmemos os nossos corações e aguardemos, pois o mundo está de olho em nós”, afirmou na ocasião.
O caminhoneiro José Carlos Bezerra dos Santos, 45 anos, acredita que os trabalhadores poderiam aguentar pelo menos mais um dia, já que o feriado pode trazer novos manifestantes para as ruas e intensificar os protestos. Contudo, relata que já há o empenho das equipes policiais em dialogar com a categoria e “esparramar” os caminhoneiros que estão paralisados. “Depois de tudo que passamos, é uma pena parar agora. Infelizmente, ao mesmo tempo em que há muita gente nos apoiando, há outros que aproveitam a situação para comercializar seus produtos com preços maiores”, completa. Para o trabalhador, seria preciso que as pessoas se unissem e não comprassem tais mercadorias, com o objetivo de não promover o que considera um “ato oportunista”.
Já o caminhoneiro Adilson Narcisio da Silva lamenta a falta de suporte da população com relação aos postos de combustíveis. Segundo ele, enquanto a categoria reivindica melhores preços para o combustível, os consumidores formam filas para adquirir o produto com valores ainda maiores. “Isso é tirar sarro da cara do povo”, pontua.
TRANSPORTE COLETIVO
A Prudente Urbano reduz, hoje, a frota disponibilizada para a operação do transporte coletivo em Presidente Prudente. De acordo com a Semav (Secretaria Municipal de Assuntos Viários e Cooperação em Segurança Viária), as linhas circulam com frequências menores até às 14h, sendo que, após este horário, o expediente estará suspenso. Já amanhã, o serviço é retomado com a frota integral nos horários de pico, ou seja, das 5h às 8h, das 12h às 14h e das 16h30 às 14h. Nos horários intermediários, os itinerários serão mantidos com 50% dos veículos. Já para o final de semana, a pasta informa que o esquema de atendimento será divulgado amanhã.
TRANSPORTE INTERMUNICIPAL
A Jandaia Transportes segue com seu serviço normal, sem adotar, por ora, o racionamento. A Andorinha e a Viação Motta prosseguem com a racionalização de horários, enquanto a Viação Garcia alerta para a possibilidade de alterar ou cancelar a frequência de algumas viagens. As que não forem executadas, contudo, podem ser remarcadas, conforme disponibilidade e sem a cobrança de taxas.
TRANSPORTE AÉREO
O Aeroporto Estadual de Presidente Prudente ainda aguarda a recarga de combustíveis para o abastecimento das aeronaves. Considerando que a sequência da operação depende das empresas aéreas, responsáveis por eventuais alterações no número de voos, a reportagem voltou a procurar as empresas Azul e Gol, que ressaltam que vêm adotando um plano de contingência com o cancelamento programado de alguns voos a fim de garantir a normalidade de suas operações e minimizar impactos aos seus clientes.
EDUCAÇÃO MUNICIPAL
As aulas em toda a rede municipal de ensino de Prudente (creches e escolas de ensino fundamental) serão suspensas na próxima segunda e terça-feira. Os projetos Criança Cidadã (com quatro núcleos espalhados pela cidade) e Aquarela (localizado na Cidade da Criança), mantidos pela SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), também estarão fechados. O motivo é o desabastecimento da merenda escolar causada pela paralisação dos caminhoneiros.
EDUCAÇÃO ESTADUAL E PRIVADA
As escolas estaduais, conforme a Diretoria Regional de Ensino, mantiveram as unidades abertas durante o período de greve, sendo registrada a presença de 90% dos docentes em sala de aula. Se perdido, o conteúdo será reposto. A distribuição de alimentos, no entanto, que é feita pela Prefeitura, em Prudente, está suspensa na segunda e terça-feira, a exemplo das municipais. As escolas particulares, conforme o Sindicato das Escolas Particulares de Presidente Prudente, não sofreram com os reflexos da greve.
ENSINO SUPERIOR
A Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) suspendeu o expediente administrativo e acadêmico amanhã e sábado, mas as atividades seguem normalmente na segunda-feira. As provas que estavam agendadas para o período que compreende os dias 28 e 30 de maio também foram suspensas, e reagendadas para datas a partir do dia 4 de junho, conforme necessidade de cada curso. A Toledo Prudente Centro Universitário informa que os alunos que não tiverem condições logísticas de estar presencialmente, enquanto perdurou a situação de desabastecimento dos postos de combustíveis, poderão fazer as avaliações durante o período de provas repositivas, sem custos adicionais.
SAÚDE
O fornecimento de medicamentos em Prudente segue normalmente nesta semana, devido ao estoque mantido pelo município. Já o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) suspendeu temporariamente a coleta de sangue para diagnóstico da leishmaniose visceral, pois o material utilizado para fazer o exame não foi entregue pelos fornecedores, em função da greve.
HOSPITAIS
As Santas Casas de Presidente Epitácio, Prudente e Presidente Venceslau precisaram adequar o atendimento durante a paralisação, o que deve se normalizar na próxima semana, conforme as unidades. Em todas elas, foram canceladas as cirurgias eletivas e priorizados os atendimentos de urgência e emergência. Em Prudente, o pronto-socorro foi direcionado às situações de “extrema necessidade”, o que não ocorreu em Venceslau. O Hospital Iamada e o HR (Hospital Regional) Dr. Domingos Leonardo Cerávolo também tiveram que adequar os serviços, por falta de entrega dos materiais e para o uso consciente dos produtos. O Hospital Maternidade Nossa Senhora das Graças e o Hospital Estadual não sofreram mudanças.
COLETA DE LIXO
A coleta de lixo é mantida na sexta-feira e no sábado, ao passo que a coleta seletiva está suspensa.
COMÉRCIO
Conforme estimativa da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), o impacto no varejo da região de Prudente, nos dias de paralisações, poderiam chegar aos R$ 26 milhões por dia. Nos dez dias em que ocorreu no oeste do Estado, o prejuízo poderia ser de R$ 260 milhões.
INDÚSTRIA
O diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Wadir Olivetti, estima que entre 20 e 30 indústrias da região suspenderam parcialmente as produções por falta de matéria-prima, mas a situação deve se regularizar na próxima semana, com a chegada de materiais e produtos que, com a greve, estavam parados nas estradas.
SETOR RURAL E SUCROALCOOLEIRO
O produtor de leite, Sérgio Mendonça, no início da semana precisou jogar fora cerca de 300 litros do produto fora, por falta de coleta, o que se repetiria no fim da tarde de ontem. Os clientes, no entanto, ligaram para o produtor e informaram que hoje voltam às atividades normalmente com os caminhões de coleta, o que garante a comercialização do produto. Já o setor sucroalcooleiro, conforme a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), contava até ontem com 150 usinas e fornecedores com as atividades paralisadas. Na região, pelo menos oito indústrias pararam as produções, o que deixou aproximadamente de 15 mil funcionários parados, conforme noticiado por este diário.
POSTOS DE COMBUSTÍVEIS
As filas quilométricas para o abastecimento dos veículos ainda ocorreu ontem, mas com menor frequência do que os outros dias. O Auto Posto Lar dos Meninos, por exemplo, recebeu 5 mil litros de cada combustível, e, por volta das 17h, “faltava pouco” para o término dos produtos. No local, uma fila que ocupava boa parte da Avenida Salim Farah Maluf e não há nova previsão de abastecimento. Já no Posto São Paulo 400, que contava ainda com o abastecimento de diesel e álcool, a estimativa é de que nos próximos três ou quatro dias, um novo reabastecimento deve ocorrer, já que falta a gasolina.
CEAGESP
Com a suposta finalização da greve dos caminhoneiros, mesmo que aos poucos, a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) de Prudente já tem percebido efeitos. Ontem, o técnico administrativo Thiago Pereira da Silva afirmou que seis novos caminhões chegaram, carregados de tomate, laranja e, principalmente, maçã. “Como amanhã [hoje] o mercado não abre, pode ser que na sexta-feira novos carregamentos cheguem. Desta forma, sábado tem tudo para ser um dia de movimentação, com produtos de mais qualidade e em maior quantidade”, felicita.
SUPERMERCADOS
No Supermercado Estrela, loja do centro, o gerente Diego Yamasaki garante que, por mais que os abastecimentos estejam ocorrendo aos poucos, com a finalização da greve, vai demorar um pouco mais para o estabelecimento sentir. “A gente imagina que entre cinco dias e uma semana as coisas poderão realmente voltar a ser como eram antes”. A problemática está maior para o carregamento de batata e cortes de frango.
GÁS DE COZINHA
Em Prudente, a Ultragaz do Jardim Aviação recebeu 40 botijões de gás ontem, que não duraram nem uma hora no estoque, já que o local estava desde sexta-feira sem o abastecimento do produto e já contava com filas de espera no momento da chegada do gás. Não há previsão para reabastecimento no local. Já no Paula Gás, a responsável pelo estabelecimento, Luana Vieira, afirma ter recebido 20 botijões, que em 40 minutos já haviam sido vendidos. “Fiquei uma semana sem estoque e meu prejuízo é de R$ 3 mil. A previsão é que amanhã cheguem mais unidades”, expõe.