Na frente da minha casa tinha uns meninos brincando com um drone. Nunca podia imaginar que esses pequenos dispositivos voadores controlados à distância iriam se transformar num tipo especial de brinquedo para crianças. Eu não sei por que aquela cena me trouxe na memória a época que andávamos em bando pelas ruas para soltar pipas... Que experiência indescritível de conexão com a natureza, sensação do vento, tempo passado ao ar livre!
Você pode chamar como quiser. Pipa? Quadrado? As pipas eram chamadas na minha turma de papagaios e tinham rabos enormes. O grande artesão dos papagaios era o Lúcio Flávio. Ele sabia preparar as varetas de bambu como ninguém. Com uma faquinha de serra fazia pequenos entalhes nas extremidades das varetas para segurar a linha no lugar. As duas varetas formavam um T minúsculo (“t”), reforçado no centro depois de várias voltas de linha. A folha de seda recortada em losango era colada na estrutura de varetas com goma caseira feita de água e polvilho... E o papel da pipa era decorado com desenhos, cores vibrantes ou até mesmo adesivos. Lá vamos nós!
Haja paciência até encontrar o vento certo para que a pipa subisse mantendo a linha sempre esticada, mas sem deixá-la muito tensa para não correr o risco de rompê-la. Talvez fosse esse o jogo mais divertido. Que sensação física de segurar a linha, sentir a resistência do vento e observar a pipa dançando no céu! Ah, soltar pipas também exigia a escolha de local certo. Um local aberto, sem árvores ou fios elétricos próximos. Em algumas situações, era preciso persistir mesmo diante de tentativas fracassadas. A paciência ajudava a manter o foco e a tentar novamente até alcançar o ponto mais perto das nuvens e entrar num estado de completo relaxamento e contemplação.
De volta dos meus devaneios, os meninos dos drones continuavam na praça. Pilotar aquele brinquedinho envolvia o uso de dispositivos eletrônicos para controlar o voo. Elas capturavam imagens do bairro visto lá de cima e até mesmo realizavam manobras acrobáticas. Certamente pilotar drones oferece experiências diferentes no céu. Mas senti neles a mesma alegria ao ver a pipa voando, nervosismo ao tentar controlá-la e satisfação ao perceber que eu estava aprendendo algo novo. Como é bom observar as estratégias das crianças para tomar posse das ruas e sonhar em voar, seja como pipas ou drones.