Muitos animais se encontram em situação de rua: eles foram abandonados, fugiram de suas casas ou nasceram pelas vias. Esses bichos necessitam de um resgate, suporte veterinário e encaminhamento para adoção. Em Presidente Prudente, muitos voluntários dividem suas vidas entre as obrigações profissionais e a ajuda que dedicam aos companheiros de quatro patas.
Marcio Kashiwa e Éris Cristina De Souza Almeida são exemplos de amor à causa. Marcio é profissional autônomo e por vezes já largou suas funções para ajudar cães. “As pessoas me ligam durante o dia, em qualquer horário, solicitando ajuda”. Os animais resgatados por ele são encaminham para o abrigo cuidado por Éris, que no momento se dedica somente a cuidar do local. Segundo Marcio, o processo de adoção consiste em uma entrevista realizada com o pretendente para saber se existem condições físicas e financeiras para que ele cuide do cão, e, após isso, visita à residência. Se tudo estiver de acordo, o animal é entregue, porém, o grupo ainda monitora para saber se ele está sendo bem tratado. “Se a casa de quem quer adotar é muito distante da gente, nós solicitamos um vídeo para ver se existe espaço para o animal, pois assim já o levamos direto, se todas as necessidades forem cumpridas”, completa Éris.
Eles destacam as dificuldades em cuidar de tantos animais, pois dependem de doações. “Às vezes temos que tirar do nosso próprio bolso”, comentam os amigos. “Estamos com um cachorro que não anda, foi abandonado pelo dono depois que sofreu um acidente e perdeu o movimento das patas. Nós pagamos fisioterapia e acupuntura para ele, R$ 280 por semana, porque o veterinário nos fez um desconto”, comenta Éris.
Realizando o mesmo trabalho, porém em sua própria residência, e sozinha, Silvana Ananias é diarista e acolhe os animais que pode para si. “É complicado fazer esse serviço, porque a nossa cidade não tem uma grande política voltada à causa”, considera. “Eu tenho muitos cachorros, que não posso mais dar para a adoção pela agressividade, ou porque eu não confio, já que eles necessitam de atenção especial”.
Grande parte da renda que Silvana necessita para cuidar dos animais vem de seu salário como diarista. “É muito difícil, eu pago aluguel e ainda sou viúva”. Mesmo com as dificuldades, e até mesmo desgaste psicológico, ela diz que toda sua dedicação, que já ajudou mais de 200 cães, é extremamente gratificante. “Meu ex-marido, que infelizmente faleceu, não gostava de quando eu trazia os animais para cá, mas depois de um tempo entendeu e até adotou um cão que gostava muito dele, e eles viraram grandes amigos”, recorda.
HISTÓRIAS QUE
MARCARAM
Éris comenta um dos casos que mais lhe marcou até então. Falcão, um vira-lata, fugiu e foi atropelado, perdendo o movimento das patas e sendo abandonado nas ruas pelo antigo dono. O grupo o acolheu, prestou auxilio médico com fisioterapia e acupuntura. Ao contatar o dono do animal, ele não o quis de volta, mesmo sem ser cobrado pelos tratamentos. Ela ainda acolhe Falcão, que está ao poucos voltando a ter leves movimentos nos membros.
Silvana, emocionada, comenta o caso de um animal que também foi atropelado, quebrando uma das patas. Esse cão era chipado, ou seja, tinha um chip que identificava o dono. Ao contatar quem era identificado no dispositivo, o animal também foi rejeitado. O cão foi adotado por uma mulher, a qual identificou que ele, devido ao acidente, tinha problemas de convulsão, e o devolveu à casa de Silvana. Após algum tempo, a mulher voltou e novamente levou o animal, que hoje está bem, com as convulsões controladas.
RECADO AOS
QUE ABANDONAM
“Se coloque no lugar do animal. Imagina se você for abandonado em outro país, sem saber a língua, ou onde está. Faça isso”, diz Marcio. “Se você pegar um animal, pegue para cuidar. Não é fácil cuidar de um animal. Tenha responsabilidade”, acrescenta Éris.
“Eu vejo as pessoas dando motivos para abandonar, porque o animal quebrou isso, comeu aquilo, mas é tudo material. O fato de tirá-los do sofrimento é gratificante para mim. As pessoas têm que ter responsabilidade. Eles não são descartáveis, são seres vivos, têm consciência e sentimento”, ressalta Silvana.