Ao longo de uma semana de trabalho, entre os dias 18 e 27 de maio, pesquisadores do Museu de Paleontologia de Marília, em parceria com paleontólogos do Museu de Ciências Naturais de Buenos Aires e do Museu de História Natural de Los Angeles, aprofundaram as pesquisas no Sítio Paleontológico Willian’s Quarry, no Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente, uma das mais importantes e significativas jazidas de fósseis de aves da Era dos Dinossauros na América do Sul.
Segundo Willian Nava, paleontólogo e diretor do Museu de Paleontologia de Marília, a nova fase de escavações foi mais uma vez bem-sucedida, resultando no encontro de novos fósseis de aves extintas na época dos dinossauros, mais particularmente da espécie Enantiornithes, que viveu no período cretáceo, entre 70 e 80 milhões de anos atrás. “São elementos ósseos muito raros. Encontrar fóssil de ave da época dos dinossauros no Brasil é algo muito difícil. A região de Prudente concentra uma gama muito vasta destes pequenos ossinhos do cretáceo”, conta Nava.
De acordo com o paleontólogo, estas aves primitivas foram extintas junto com os dinossauros e não há muitas informações sobre este grupo no sentido de delinear uma linha evolutiva entre as Enantiornithes e as aves de hoje. “O nosso estudo se debruça em saber mais sobre estes antigos seres da Era dos Dinossauros, na tentativa de estabelecer a relação entre estas aves do cretáceo e as aves atuais, porque se sabe que estas aves primitivas possuíam dentes. As aves de hoje não. Então, o que é que houve no transcorrer geológico e biológico para que elas perdessem os dentes e hoje serem dotadas de bico e se adaptar a vários ambientes?”, explica e questiona o paleontólogo sobre as hipóteses da pesquisa. “Não se sabe como era o ambiente naquela época, mas só o fato de elas possuírem dentes é um indicador de que elas poderiam ser carnívoras também”, indica Nava sobre uma das possíveis características das aves da espécie Enantiornithes.
Nesta fase de escavações, também, foram encontrados materiais de outros animais do período cretáceo, como pequenos ossos de lagartos, anfíbios, dentes crocodilos, fragmentos de dinossauros herbívoros. Todo este material será futuramente analisado pelos paleontólogos. “É um estudo demorado. É um material frágil e pequeno”, aponta Willian Nava.
“É o único lugar do Brasil e da América do Sul com uma abundância de ossinhos de aves do período cretáceo”, revela Willian Nava. Segundo o diretor do Museu de Paleontologia de Marília, desde a primeira descoberta no local, em 2004, o Sítio Paleontológico de Presidente Prudente apresenta uma característica única em relação à descoberta de fósseis de aves da Era dos Dinossauros em outras localidades do globo, como em sítios na Espanha, China e Mongólia. “Aqui eles estão preservados em 3D. Em outros locais no mundo, estes fragmentos de aves são encontrados deformados e esmagados por camadas de sedimentos. Aqui não. Algum evento protegeu a morfologia dos fósseis e você consegue ver o ossinho do jeito que ele era em vida. Por isso, que se fala que a preservação dos ossos aqui em Prudente é 3D”, explica Nava sobre a peculiaridade do local em relação aos fragmentos analisados, que servem para o entendimento da evolução das aves.
Nava indica que foi estabelecida uma parceria com as secretarias de Meio Ambiente e Turismo de Presidente Prudente. Na sexta-feira da semana passada, foi realizado um trabalho de roçagem para limpeza da área. O paleontólogo especula que a próxima fase de escavações junto aos pesquisadores internacionais se dê no primeiro semestre de 2023.
As escavações e estudos no Sítio Paleontológico Willian’s Quarry, no Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente, já possuem 17 anos de trabalho, desde quando Willian Nava encabeçou a primeira exploração no local, em setembro de 2004. De lá para cá, a descoberta mais relevante se deu em 2018, quando, além dos diversos ossos de aves em tamanhos pequenos, foi encontrado um crânio da espécie Enantiornithes.
William Nava/Cedida
Foto do crânio da Enantiornithe
Os achados paleontológicos no sítio de Prudente são encaminhados para o Museu de Paleontologia de Marília e estão sob estudos e futuramente vão ser publicados em artigos científicos. Em julho do ano passado, o Museu de História Natural de Los Angeles, em parceria com o Museu de Marília, publicou o primeiro artigo científico descrevendo um dos fósseis da ave Enantiornithes encontrado no Sítio Willian’s Quarry, em 2007.
Reprodução/ Artigo científico do Museu de História Natural de Los Angeles
Em julho do ano passado, Museu de História Natural de Los Angeles publicou o primeiro artigo científico descrevendo um dos fósseis da ave Enantiornithes encontrado no Sítio Paleontológico ‘Willian’s Quarry’
O imenso potencial neste espaço aberto localizado no Parque dos Girassóis para contribuição cientifica na Paleontologia - campo do conhecimento humano que estuda a vida do passado da Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico - chamou a atenção de paleontólogos de diversas nacionalidades. Entre eles, o argentino Luis María Chiappe, que encabeça a equipe de pesquisadores do Museu de História Natural de Los Angeles.
“Essa área é única no mundo. É um sítio que contém restos de muitas aves que viveram na Era dos Dinossauros. Mundialmente, são muito raras. E aqui há muito material acumulado. Ainda não é claro o porquê, mas elas estão aqui. Para a pesquisa das aves primitivas e a evolução das aves, este sítio é único”, elucida Chiappe, que explica a parceria com Nava. “A colaboração com o professor Willian já dura três anos. Nesta fase de escavações atual estamos com uma equipe internacional, com pesquisadores da Argentina, dos Estados Unidos, da Espanha, do Reino Unido e de Taiwan, ‘y por supuesto’ [naturalmente], do Brasil também”.
O paleontólogo argentino Luis María Chiappe, que atua nos EUA, é uma das referências da paleontologia no estudo sobre a origem e a evolução de aves do período Mesozoico, também conhecido como Era dos Dinossauros, que durou entre 248 milhões e 65 milhões de anos atrás.
Foto: Caio Gervazoni
Paleontólogo argentino Luis María Chiappe, do Museu de História Natural de Los Angeles, é uma das referências da paleontologia no estudo sobre origem e evolução de aves da Era dos Dinossauros
Além do professor Chiappe, estiveram presentes neste último trabalho de escavações em Presidente Prudente, a taiwanesa Becky Wu, os norte-americanos Beau Campbell, Erika Durazo e Stephanie Abramowitz, todos pelo Museu de História Natural de Los Angeles. O paleontólogo Guillermo Navalón representou a Universidad Autónoma de Madri, na Espanha. Do Museu de Ciências Naturais de Buenos Aires, vieram os paleontólogos argentinos Agustín Martinelli e Sebastian Bozzadila. Auxiliaram o professor Willian Nava, pelo Museu de Paleontologia de Marília, as pesquisadoras Geovana Paixão e Rebeca Valillo. O argentino Jonathan Kaluza, técnico em paleontologia da Fundación Félix de Azara, de Buenos Aires, também esteve junto à equipe de pesquisadores que fizeram as recentes descobertas no Sítio Paleontológico do Parque dos Girassóis, em Presidente Prudente
Foto: Caio Gervazoni
Além de mais fósseis da ave Enantiornithes, nesta fase de escavações foram encontrados materiais de outros animais do período cretáceo, como lagartos, anfíbios, dentes crocodilos e fragmentos de dinossauros
Foto: Caio Gervazoni
Willian Nava encabeça explorações no local desde setembro de 2004
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