Natural de Piracicaba (SP), o descendente de americano Laury Cullen Jr., pesquisador do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) , foi contemplado em 2020 como um dos 13 vencedores do Whitley Continuation Funding 2020. O prêmio, destinado a conservacionistas de todo o mundo pela inglesa WFN (Whitley Fund for Nature), tem como objetivo garantir escala a projetos já apoiados uma vez pela organização. Laury já recebeu o Whitley Awards em 2002, considerado o Oscar da conservação da biodiversidade, e agora dará ainda mais impulso ao projeto “Corredores para a Vida”, para a conservação da mata atlântica no oeste paulista. Laury, que é engenheiro florestal, dedica sua profissão na restauração de uma das áreas mais fragmentadas da mata atlântica do Brasil, o Pontal do Paranapanema, localizado no oeste paulista.
“Nosso trabalho depende muito dessa visibilidade, reconhecimento. Esse prêmio vem dar uma chancela tanto nacional quanto internacional para a qualidade, amplitude, escala e até a nobreza das coisas que fazemos no Pontal em prol da conservação da vida”, diz o engenheiro.
Com o projeto Corredores para a Vida, Laury conta que coordenou o plantio do maior corredor já reflorestado no Brasil, que conecta as duas principais unidades de conservação da mata atlântica do interior: o PEMD (Parque Estadual Morro do Diabo) e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto.
De acordo com Laury, o corredor, que passa por dentro da Fazenda Rosanela, tem 12 quilômetros e 2,4 milhões de árvores plantadas. “Ele nasceu há mais de 20 anos, junto com a chegada da agricultura familiar, da reforma agrária e da necessidade de envolver nesse local, o homem, sem distinção de gênero, essa comunidade, esse número de famílias nesse trabalho de conservação de espécies raras e endêmicas [que só existem nessa região] como o mico-leão-preto, onça-pintada, entre outros, e que vivem no que restou da mata atlântica local. Com a fragmentação e o isolamento das pequenas florestas, as espécies correm alto risco. Daí a necessidade de conectar os fragmentos com os corredores”, explica o engenheiro florestal.
ESSE PRÊMIO VEM DAR UMA CHANCELA TANTO NACIONAL QUANTO INTERNACIONAL PARA A QUALIDADE, AMPLITUDE, ESCALA E ATÉ A NOBREZA DAS COISAS QUE FAZEMOS NO PONTAL EM PROL DA CONSERVAÇÃO DA VIDA
Laury Cullen Jr.
Laury destaca que os corredores de mata atlântica são resultado de um longo estudo estratégico para plantios de floresta em áreas relevantes à fauna e à flora daquela região. Além disso, é fruto de muitas parcerias entre todos os setores: governamental, privado e não governamental. Ele destaca que o projeto considera, principalmente, a participação social como uma de suas maiores conquistas: leva geração de renda a famílias, novas formas de produzir e ajuda a construir novos negócios sustentáveis, por exemplo, com os viveiros comunitários.
“Sabemos que essas florestas plantadas contribuem com a qualidade do clima, com o aspecto de comunidade, uma vez que todo nosso trabalho tem uma forte relação com a geração de empregos, qualidade de vida e segurança alimentar. Todos os trabalhos de conservação, restauração, de monitoramento são feitos pela comunidade local. Todas as mudas produzidas são feitas em viveiros comunitários. E contribui com a biodiversidade, pois é sabido que estas florestas, esses corredores garantem a sobrevivência em longo prazo”, enfatiza o amigo da natureza.
“Este é mais um grande passo importante na missão de reconectar a floresta do Pontal do Paranapanema. Temos trabalhado nisso ao longo de mais de 25 anos e, com certeza, daremos um grande salto graças ao fundo do Whitley. É um prêmio para nós, do IPÊ, mas, acima de tudo, para a mata atlântica”, comemora Laury.
Segundo o engenheiro florestal, os corredores hoje já não se limitam aos 12 km. Eles avançaram ao norte do PEMD e, até o final de 2020, mais 500 mil árvores foram plantadas nesta porção de mata atlântica que precisa ser reconectada. Ao norte, um novo corredor já é formado pelo projeto liderado por ele e realizado pela equipe de profissionais do IPÊ no Pontal: Haroldo Borges Gomes, Nivaldo Ribeiro Campos, Aline Souza, Maria das Graças Souza, Williana Marin e Aires Cruz. Ao todo, com o projeto, o IPÊ tem hoje cerca de 2,9 milhões de árvores plantadas.
Com o Continuation Funding será possível plantar 500 hectares da floresta em dois anos. Ou seja, será mais 1 milhão de árvores na mata atlântica, que vão gerar benefícios climáticos, compensando 43 mil toneladas de carbono; que irão apoiar a conservação de espécies ameaçadas de extinção como o mico-leão-preto e a anta-brasileira; e, como já mencionado, que darão oportunidades de trabalho em restauração para comunidades locais.
“A restauração no oeste paulista é o caminho mais interessante para o desenvolvimento e a economia local. O déficit florestal na região é de quase 60 mil hectares. Nossa meta é restaurar 5 mil hectares em cinco anos. Existe a necessidade florestal, mas ela é também uma saída econômica e social de grande relevância. Com o reflorestamento, é possível movimentar US$ 10 milhões na economia da região, US$ 1,2 milhão em viveiros comunitários e US$ 25 mil em produtos agroflorestais de pequenos produtores rurais, até 2025. É algo promissor, que beneficia empresas, setores governamentais, a biodiversidade e, claro, a sociedade”, reforça Laury, um dos protetores das matas.
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Fotos: Cedidas
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