Pesquisa lista 29 mamíferos cercados pela cana

Áreas avaliadas em trabalho da Unesp vão desde as adjacências de Prudente até São José do Rio Pardo, passando por regiões ao norte

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 19/03/2017
Horário 13:19


Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro revela uma lista de mamíferos de médio e grande porte encontrados em 22 remanescentes florestais rodeados por plantações de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. Ao todo, foram identificadas 29 espécies nas áreas estudadas, que vão desde as adjacências de Presidente Prudente até São José do Rio Pardo, no leste paulista, passando por regiões ao norte, como Araçatuba e São José do Rio Preto.

Jornal O Imparcial 90% das espécies esperadas para o Estado foram registradas em áreas incluídas no estudo

O levantamento, cujos resultados foram publicados na revista Biological Conservation, foi realizado com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) no fim de 2014. Através dele, os pesquisadores constataram, no geral, a presença de cerca de 90% de todas as espécies de mamíferos que são esperadas para o Estado. "Porém, nem tudo é boa notícia. Conforme relatam os autores no artigo, nos fragmentos florestais pequenos são encontrados apenas entre 20% e 50% das espécies esperadas para o Estado. Isso quer dizer que, em alguns casos, até 80% das espécies foram localmente extintas nestes espaços menores", destaca a Agência Fapesp.

O trabalho de campo foi realizado durante o mestrado de Gabrielle Beca, primeira autora do estudo, sob orientação do professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências, Mauro Galetti, no âmbito do Programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade. "Visitamos esses 22 fragmentos e instalamos em cada um deles, no meio da mata, armadilhas fotográficas. Colocamos as máquinas automáticas onde havia grande possibilidade de os animais passarem, como locais com água ou próximos de árvores que estavam frutificando", explica Gabrielle.

As câmeras foram retiradas após um mês e, para complementar o trabalho, "foi feito um censo de pegadas deixadas nas bordas da floresta". "Há guias que permitem identificar a espécie pelo formato da pegada e o tipo de marca deixada e também fizemos avistamentos diretos dos animais", conta.

 

Espécies

A pesquisa revela que, nos fragmentos analisados, ainda existem onça-pintada, tamanduá-bandeira, anta e queixada, ou seja, "não há registro de extinção regional de espécies". "Só não registramos algumas extremamente raras, como o tatu-canastra", diz o professor. Quanto maior a área florestal remanescente, mais animais raros ela possui, frisa o levantamento, citando que até mesmo um único registro do cachorro-vinagre, "algo não esperado nesses ambientes circundados pela cana-de-açúcar".

Já nos fragmentos menores, restam somente as espécies mais generalistas, como gambá ou o tatu-galinha, "que conseguem se adaptar a ambientes conturbados por não necessitarem de áreas tão grandes para encontrar alimento". Além das já mencionadas, foram observados também quati, tatuí, tamanduá-mirim, ouriço-cacheiro, capivara  e cutia, entre outras. A quantidade e localidade, porém, não foi revelada por região do Estado.

 

Preservação

Por meio da Agência Fapesp, Galetti diz que os resultados do censo indicam que ainda há chances de preservar boa parte da fauna de mamíferos do Estado. Isso se forem criados corredores ecológicos para conectar os diversos fragmentos florestais.

A mesma opinião tem o ambientalista Djalma Weffort de Oliveira, presidente da Apoena (Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar), ONG (organização não governamental) com sede em Presidente Epitácio. "Não só concordo, como são essenciais. É o mais moderno e eficaz instrumento de manejo nos dias atuais. Pode ser já com floresta ou restaurados, com o plantio de mudas de espécies arbóreas nativas", expõe. "Dê-se preferência ao longo dos rios, córregos, reservatórios e demais cursos d’água. Nesse sentido, a Apoena trabalha historicamente em parceria com diversos órgãos e empresas, avançando com esse tema na região", destaca.

O ambientalista avalia que os dados levantados podem beneficiar a natureza e o homem na medida em que demonstra que os fragmentos podem ser conectados, produz conhecimento e pesquisa e ainda traz divisas para os municípios e comunidades por meio da geração de emprego, repasse do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) Ecológico e o PSAs (Pagamento por Serviços Ambientais).

 
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