“Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la'', eis uma das frases mais famigeradas do filósofo inglês, Edmund Burke. Certamente, em termos históricos, a ausência de um entendimento mínimo sobre os fatos passados implica uma ignorância sobre o presente, pois a escassez de um conhecimento sobre o que ocorreu representa a falta de um esclarecimento acerca das causas e fatores que estruturaram e construíram o presente. Nesse sentido, é impossível uma compreensão sólida da conjuntura atual sem um apreço pela história. Por certo, o mesmo vale para o campo individual, já que não é concebível conhecer, integralmente, as circunstâncias pessoais desprezando os acontecimentos que marcaram o passado individual.
Diante disso, é importante reiterar o pensamento do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, o qual afirmou categoricamente: "A filosofia está perfeitamente correta ao dizer que a vida deve ser entendida olhando-se para trás, mas então a gente esquece a outra parte: que ela deve ser vivida para frente". Portanto, é preciso nutrir certa consideração pelos acontecimentos da história pessoal, pois são eles que favorecem uma compreensão dos motivos pelos quais o presente se encontra do modo como se apresenta fatidicamente. Ademais, a memória do passado serve como uma lembrança dos erros, acertos, amizades, relacionamentos, frustrações, vitórias e esperanças. Tal memória deve atuar como uma espécie de guia ou direção para os planos futuros, apontando maneiras diversas de superar as falhas cometidas, de progredir virtuosamente e, sobretudo, de suportar as adversidades com resignação.
Ademais, é sempre útil e agradável fomentar a lembrança dos bons momentos do passado, nutrindo, assim, gratidão pelos instantes de felicidade, pelo tempo com pessoas virtuosas, pelas oportunidades e conquistas que fizeram e construíram o presente. Destarte, a memória da história, tanto para melhorar o comportamento pessoal e renovar as escolhas em prol do bem e das virtudes, quanto para relembrar a alegria de viver e agradecer pelas ocasiões de alegria, é imprescindível para a construção de projetos futuros.
Nesse sentido, frisando o que foi exposto, dizia o escritor francês Louis Lavelle: "Não posso me ver a não ser virando-me para o meu próprio passado, isto é, para um ser que já não sou mais. Contudo, viver é criar meu próprio ser orientando minha vontade para um futuro no qual ainda não sou".
Diante dos fatos supracitados, é premente o resgate de um entendimento segundo o qual a história, com todas as suas tragédias, alegrias, conquistas, perdas e tristezas, engloba um traço fundamental da natureza humana. Dessa forma, o importante é compreender o passado, não se apegar a ele, tampouco se lamentar exaustivamente. Portanto, o que realmente importa é enxergar nos momentos que se passaram motivos para progredir, para continuar no caminho da genuína felicidade e das virtudes, a despeito das adversidades e dos empecilhos, construindo, assim, a personalidade. Eis o significado de viver.