Quem passou pelo calçadão de Presidente Prudente, na manhã de ontem, se deparou com uma cena curiosa: uma galinha de pelúcia dentro de uma panela sobre um fogão. A circunstância foi um recurso utilizado pela VEM (Vigilância Epidemiológica Municipal) e CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), em parceria com estudantes de Medicina da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e escolas municipais, para conscientizar e orientar a população prudentina sobre a Semana Nacional de Combate à Leishmaniose Visceral, doença grave transmitida através da picada do mosquito-palha e que acomete cães e humanos.
População recebeu panfletos educativos sobre a doença
A educadora de saúde da VEM, Elaine Bertacco, explica a razão do uso do boneco para ilustrar a ação educativa: "A galinha é fonte de alimento do mosquito, que deposita suas larvas nas fezes da ave, propiciando a reprodução das fêmeas, transmissoras da doença. Em áreas urbanas, lugar de galinha é na panela". Além dessa figura, compuseram o cenário folhas secas e galhos de árvore, restos de madeira e sacos de terra e frutas em estado de decomposição, que favorecem a criação do mosquito.
Conforme Elaine, a ação tem como propósito divulgar informações sobre a patologia, visto que ela ainda é pouco conhecida. "Se a dengue já gera dúvidas, imagine a leishmaniose", frisa. A educadora de saúde destaca que Prudente já registrou dois casos da doença em humanos, sendo um em 2013 e outro em 2015, e um óbito neste ano. "É muito importante que as pessoas procurem atendimento médico em tempo hábil caso apresentarem sintomas, pois a leishmaniose pode ser fatal", alerta.
Em cães
A educadora de saúde do CCZ, Maria Clara Sahu, aponta que neste ano já foram registrados 107 casos da enfermidade crônica em cães e apenas dois não foram entregues para eutanásia. "A abreviação da vida do animal fica sob autorização do proprietário, entretanto, caso não exista, correm processos em que a Justiça determina as vias", esclarece.
Maria Clara enfatiza que o CCZ realiza atividades de rotina para coletar sangue de cães que apresentam sintomas e diagnosticar a doença. "O sangue é encaminhado para o Instituto Adolpho Lutz e se os resultados forem positivos, os animais são recolhidos para eutanásia", explica. "É importante ressaltar que o tratamento torna a doença assintomática, mas os riscos de transmissão para os proprietários e população permanecem, por isso, a eutanásia é preconizada", complementa.
A educadora de saúde enfatiza que a melhor forma de prevenir a transmissão da leishmaniose é por meio da manutenção da saúde do animal e limpeza do quintal. "O CCZ pede que os donos mantenham seus cães vacinados e evitem sua saída para a rua. É importante que as famílias não acumulem material dentro de seus quintais e recolham folhas secas, frutas em decomposição e restos de alimentos", ressalta.
Outra medida essencial é a posse responsável. "Hoje, o CCZ oferece castração gratuita para pessoas de baixa renda e beneficiárias do Programa Bolsa Família. A cirurgia visa reduzir o número de crias indesejadas e o aumento dos animais de rua, que elevam a transmissão da leishmaniose para a população", pontua a educadora.
Participação
Em conjunto com a VEM, estudantes de Medicina da Unoeste e 50 alunos da Escola Municipal Padre Emílio Becker, que contou com dois deles caracterizados de mosquitos-palha, fizeram a distribuição de panfletos educativos para os pedestres do calçadão e condutores de veículos. Para o acadêmico em Medicina, Matheus Kasai, a ação é uma forma de ter contato com a população. "Através disso, podemos conscientizar as pessoas sobre a prevenção da doença e os agravos que ela pode trazer para a saúde humana", avalia.
A professora polivalente Glaucia Caruso Dorazio acredita que a participação dos alunos é de extrema importância. "As crianças são um meio de propagação e podem estender o conhecimento adquirido em ambiente escolar para toda a família. Sendo assim, estamos promovendo pequenos projetos, a fim de orientá-las sobre a leishmaniose e a importância de manter o quintal limpo. Hoje , elas vieram aqui para repassar isso", relata.
A aluna do 5º ano do ensino fundamental, Esther Campos, 10 anos, foi uma das participantes. "Estou aqui para aprender e ensinar, pois essa doença pode matar os animais e ser transmitida para os humanos, então, temos que tomar cuidado", conta. O estudante Fernando Hatori Silva Franco, 10 anos, também aproveitou a ocasião para repassar o que lhe foi ensinado. "É preciso se cuidar, porque é muito ruim ficar internado", realça.
A doença
De acordo com a VEM, a leishmaniose visceral é uma doença que, se não for tratada, pode ser fatal em 90% dos casos humanos. Em pessoas, os sintomas comuns são febre prolongada, tosse seca, emagrecimento, crescimento de baço e fígado, fraqueza, diarreia e, em situações mais graves, sangramento na boca e no intestino. O tratamento é gratuito e disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Conforme o CCZ, para os cães, o tratamento é inexistente e a patologia é fatal. Os sintomas apresentados pelos animais são emagrecimento, fraqueza, queda de pelos, vômitos, febre regular, crescimento das unhas e feridas no focinho, nas orelhas e nas patas. Mais informações podem ser obtidas na VEM pelo telefone 3905-3265, ou no CCZ pelo 3905-4220.