O marco cronológico de nosso envelhecimento é a data de aniversário. Comemoramos mais um ano vivido e desejamos, ao cortar o bolo rico em gordura e açúcar, viver mais 1, 5, 10, 30 anos com saúde. O fato é que nossa saúde vai diminuindo a cada ano, a partir dos 40 anos, assim como a energia de uma bateria. No caso do corpo humano, a “energia” em decaimento representa a função de vários sistemas fisiológicos e órgãos.
DECAIMENTO DESIGUAL
Imagine essas “várias baterias” funcionando em conjunto. Na juventude elas descarregam e recarregam quase igualmente. Mas a partir da meia-idade (~40 anos) o recarregamento nunca é total, por isso a carga decai progressivamente até zerar aos 70, 80 ou 90 anos. E esse decaimento não é igual para todos os sistemas fisiológicos e órgãos. Uma doença que afeta um sistema ou órgão acelera o decaimento “dessa bateria” e influencia negativamente as demais baterias.
ANÁLISE DO ENVELHECIMENTO
Há algumas formas de quantificar o envelhecimento, entre elas o acompanhamento da função dos sistemas fisiológicos e órgãos, por meio da análise de moléculas ou outras técnicas. Alterações bruscas e amplas indicam doença, porém as alterações pequenas (aumento ou diminuição) e progressivas indicam a perda gradativa de função, o envelhecimento (ex. aumento da glicemia, do PSA da próstata).
INDICADORES
Estudo publicado na revista Nature Medicine teve a proposta de compreender as diferenças no envelhecimento. Participaram 106 pessoas de 29 a 75 anos, dos quais foram coletados sangue, outros fluidos e fezes cinco vezes, durante o período de três anos, para análise da variação das moléculas e microrganismos nas diferentes idades.
TAXA DE ENVELHECIMENTO
O estudo permitiu identificar diferentes padrões de envelhecimento de acordo com a variação das moléculas. Também foi observado que o envelhecimento era menos acelerado em algumas pessoas e mais acelerado em outras. Alterações no comportamento, tornando-o mais saudável, diminuíam a variação das moléculas marcadoras do envelhecimento, tais como a creatinina da função renal e hemoglobina A1c - glicada, do metabolismo da glicose.
PADRÕES
Os padrões de envelhecimento identificados (ageotypes: aging - envelhecimento e types - tipos) foram: [1] metabólico, [2] imunológico, [3] hepático (fígado) e [4] nefrótico (rins). O padrão metabólico, por exemplo, é caracterizado por risco aumentado de problemas no metabolismo da glicose, aumento da hemoglobina A1c e diabetes, que leva a outras doenças com o decorrer dos anos. O padrão imune é caracterizado por elevação dos marcadores inflamatórios (citocinas) e aumento do risco de doenças autoimunes. O padrão de cada indivíduo indica qual é o sistema fisiológico ou mecanismo que sofre maior variação e “traciona” para o envelhecimento, porém os demais sistemas fisiológicos e mecanismos também sofrem variações e contribuem para o decaimento das baterias.
APLICAÇÃO
A presença de uma doença crônica altera significativamente as moléculas e acelera o envelhecimento. Indivíduos com resistência à insulina (pré-diabetes) têm alteração em 10 moléculas, em comparação com indivíduos normais. Os comportamentos de prática regular de exercício físico, dieta adequada e perda do excesso de gordura diminuem a variação das moléculas e desaceleram o envelhecimento, independentemente do padrão de cada indivíduo.
O padrão de cada indivíduo indica qual é o sistema fisiológico ou mecanismo que sofre maior variação e “traciona” para o envelhecimento.
Referências
Ahadi S, Zhou W, Rose SMSF, Sailani MR, Contrepois K, Avina M, Ashland M, Brunet A, Snyder M. Personal aging markers and ageotypes revealed by deep longitudinal profiling. Nat Med. 2020; 26(1): 83-90. http://dx.doi.org/10.1038/s41591-019-0719-5
Piening BD, Lovejoy J, Earls JC. Ageotypes: distinct biomolecular trajectories in human aging. Trends Pharmacol Sci. 2020; 41(5): 299-301. http://dx.doi.org/10.1016/j.tips.2020.02.003