Onde foram parar os gritos dos feirantes?

Domingo de manhã, fomos eu e meu esposo, caminhar pela feira. Observando toda aquela maravilha contida em cada barraca, as frutas vermelhas, amarelas e verdes, assim como os legumes, não pudemos deixar de ver também, os peixes, as flores e pastéis fritos na hora. Caminhando atentos a tudo e a todos, uma pergunta surgiu: Onde ou aonde, já não sei mais, os professores da língua portuguesa, que me perdoem, foram parar os gritos dos feirantes? Bem lembrado, realmente eram fantásticos. 
Observei então, que o silêncio imperava naquela avenida. Uns vindo e outros indo, cumprimentos calorosos e afetivos, crianças, bebês e adultos caminhavam em direção dos seus desejos. Fui pesquisar e encontrei um decreto da Prefeitura de São Paulo, instituído pelo Gilberto Kassab em 2007, proibindo os gritos, bordões, ou quaisquer outras formas de chamar a atenção. Observei que essa proibição não agradou os feirantes e os fregueses em São Paulo. Penso que desagradou a todos os feirantes e a maior parte dos fregueses. 
O decreto da Prefeitura - não sei como está atualmente - prevê de notificação à perda de matrícula do feirante. Só sei que percebi que os gritos e bordões não estavam presentes na feira. Sei que, “agradar gregos e troianos” é muito difícil, mas penso que mexeram em uma característica identitária da feira. Feirantes na ausência dos bordões e dos seus gritos perdem suas características e permanecem mudos. Sem voz, deixam de anunciarem seus produtos e o fundamental, reprimem suas expressões como autonomia, liberdade, o vir a ser, criatividade, relativas aos aspectos emocionais. 
A socialização, comunicação e a competição, penso que é o grande entusiasmo do grupo. Sou psicanalista e tenho um envolvimento muito relevante com essa questão frequente no consultório de inibição, sintomas e angústias, dar voz aos silêncios que desencadearam ou desencadeiam doenças psicossomáticas, por exemplo, é o nosso papel como profissionais especializados em saúde mental. Dos feirantes à psicanálise, sonhei que “o que é a vida senão uma constante renúncia pulsional”? 
Precisamos ter voz, reprimidos eclodiremos por ocasião de acontecimentos marcantes ou em períodos críticos da nossa vida. Podemos pensar em várias manifestações sob a forma de distúrbios diversificados e ao mesmo tempo passageiros como sintomas somáticos, perturbações da motricidade (contraturas musculares, paralisias de membros, paralisias faciais etc.), os distúrbios de sensibilidade (dores localizadas e enxaquecas), insônias, distúrbios alimentares, enfim, como diz Sigmund Freud (1893), a cura é pela fala, (Talking cure) e é preciso limpar as chaminés (Chimney Sweeping). Expressem suas emoções sempre!
    
 

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