Definidas as datas do primeiro e segundo turnos das eleições – 15 e 29 de novembro – a maior interrogação sobre o pleito se espraia pelo território: afinal, para onde irá o voto influenciado pelo novo “coronel”, desculpem, o novo corona da política? Há uma teia de circunstâncias a sinalizar a direção dos ventos pandêmicos, a partir da hipótese central de que o danado do vírus já estaria dominado pelos avanços medicinais e pela própria imunidade da população. Por isso, qualquer apontamento sobre tendências haverá de considerar o que este analista batiza de Produto Nacional Bruto da Felicidade. Abaixo de 5, a desgraceira será geral, com alto índice de renovação nos perfis dos alcaides. Acima de 5, teremos uma mescla de gente nova, prefeitos reeleitos e até velhos nomes de volta ao palco.
Façamos algumas projeções. Uma delas é que as mulheres ganharam evidência na conjuntura de crise, mais falantes e valentes na crítica aos precários serviços públicos. A mulher como organizadora, tomadora de conta do lar, atenta à penca de filhos. Daí emerge a inferência: serão reconhecidas como tal, merecendo o voto de fortes parcelas eleitorais.
Um fenômeno que se expande no país é o da organicidade social. A chamada Constituição Cidadã abriu um imenso leque de direitos individuais e sociais que, nos últimos anos, se tornaram movimentos organizados, com personalidade jurídica, capazes de fazer mobilizações de rua.
A força dessa movimentação se avoluma na esteira do descrédito com que a sociedade passa a enxergar a classe política. E quem ocupou este vácuo? Exatamente as entidades organizadas. Os corredores do Congresso tornaram-se passarela para o desfile de associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de todos os tipos. Pois bem, o voto em novembro terá essa forte alavanca organizativa.
Outro vetor de peso eleitoral é o das frentes parlamentares, formadas por bancadas de defesa de círculos de negócios. Agrupam as bancadas religiosa, do agronegócio, dos servidores públicos, dos militares, do setor de serviços, dos profissionais liberais etc. Essas bancadas tendem a se consolidar na moldura organizativa do país, onde o voto vai geralmente para o representante dos interesses locais e das regiões.
A par dessas projeções, podemos divisar uma composição ditada pelo modo como categorias enxergam a política. Os profissionais liberais, por exemplo, tendem a depositar na urna um voto mais racional que emocional. O voto no Brasil está deixando o coração para subir à cabeça. No contraponto, enxergamos traços do passado em rincões que pararam no tempo, o habitat de raposas da velha política, com seus nacos garantidos em administrações falidas.
Em suma, o novo coronel (desculpem, o novo corona) estará na fila das seções eleitorais.