O filósofo dominicano São Tomás de Aquino compreendia a ambição exacerbada enquanto um pecado capital, isto é, um vício responsável pela proliferação de outras falhas morais e fragilidades de caráter. Em vista de uma melhor elucidação acerca do pensamento supracitado, é importante frisar que Aquino, baseado numa perspectiva aristotélica-cristã, defendia uma concepção ética centrada na teleologia, ideia segundo a qual as ações humanas apresentam uma finalidade, qual seja: a felicidade, encontrada na comunhão com o Sumo Bem e no exercício das virtudes. Diante disso, percebe-se que o desejo desordenado pelas coisas materiais e pelo sucesso próprio apenas representa, segundo o escritor dominicano, desvios graves da verdadeira vida feliz.
Numa primeira análise, é premente conceituar o que tipifica a ambição exacerbada na perspectiva tomista. Em sua famigerada obra “Suma Teológica”, São Tomás associa o vício da ambição desordenada aos elementos da avareza (pleonexia/ filargíria), caracterizada, em última instância, pelo constante desejo de possuir, ou seja, num apetite descontrolado em relação aos bens materiais. Nas palavras do próprio pensador, o avarento se deleita na convicção de ser dono de riquezas. Para a espiritualidade cristã, o homem que apresenta o sucesso material como fim derradeiro de sua existência demonstra desprezo por outros valores centrais, tais como a verdadeira amizade, o amor fraterno, a liberalidade, o espírito de pobreza e a contemplação da verdade.
Ademais, São Máximo, o Confessor, importante teólogo cristão, era categórico na afirmação segundo a qual a avareza decorre de três falhas de caráter, a saber: gosto pelo prazer (materialismo hedonista) , a vaidade e a falta de fé nos valores e virtudes genuínas. Diante disso, a pessoa dominada pela ambição exacerbada não apresenta um compromisso sólido com elementos da moralidade básica, visto que sua orientação prática é dominada tão somente por interesses utilitários (lucro, posses e realização profissional), considerando, por conseguinte, as paixões próprias como os únicos guias e critérios de suas ações. Diante dos fatos supracitados, o papa São Gregório Magno afirmou que os vícios trágicos oriundos da avareza são: a traição, a fraude, a mentira, o perjúrio, a inquietude, a violência e a dureza de coração.
Por fim, é imperioso destacar que somente o verdadeiro desapego e a prática fervorosa das virtudes podem atenuar os efeitos desastrosos e tétricos da ambição desordenada. Portanto, é preciso destacar que os valores morais autênticos (caridade, generosidade, fé, esperança e fortaleza) são mais importantes para a felicidade do que a busca pífia por riquezas e poder, pois há mais alegria em dar do que em receber, já que o amor ao próximo representa o pilar de uma boa vida. Em vista disso, afirmava São João Crisóstomo, importante expoente da patrística: “Não é rico quem está circundado de muitas coisas, mas o rico verdadeiro é quem não tem necessidade de muitas coisas e, ao contrário, não é pobre quem não tem nada, mas o verdadeiro pobre é aquele que deseja muitas coisas”.