Tendo comentado nesta coluna passagens históricas envolvendo gênios do futebol mundial, resolvi alongar um pouco mais o tema. Escrevi sobre o húngaro Puskas e Johan Cruyff, o maior craque holandês que conheci pessoalmente e hoje me estendo um pouco sobre o futebol de um país que entrou num ostracismo futebolístico que bate de frente com seu passado glorioso. Houve uma época em que a Áustria tinha sua seleção de futebol conhecida como o “wunderteam”, time maravilha, no idioma local. E deixou histórias que marcaram de forma indelével o período de seu apogeu. Ainda quando da disputa da Copa Rio, em 1951, vencida pelo Palmeiras o Áustria Viena foi um dos participantes e chegou às semifinais depois de vencer o Nacional do Uruguai por 4 a 0, dobrar o Sporting de Lisboa e empatar com o próprio Juventus, grande time italiano que faria a final diante do Palmeiras. O “wunderteam” brilhou efetivamente nos anos 1930/40 e é possível ao historiador considerar que foi, como tanta gente e tantos fatos, uma das vítimas da 2ª Guerra Mundial. Uma das histórias mais significativas vividas no futebol austríaco é a que envolve aquele que é considerado o maior craque austríaco de todos os tempos: Mathias Sindelar. Era um atacante de finíssimo trato com a bola, esguio, alto, magro, excelente driblador e melhor finalizador e que pela fineza de seu jogo era chamado de “o Mozart do futebol”. Jogou exatamente no Áustria Viena e pelos seus pés a Áustria chegou às semifinais na Copa do Mundo de 1934. Filho de um pedreiro, trajava-se com extrema elegância e desfilava sua classe tanto nos melhores locais de Viena como nos gramados. Sindelar nasceu em 1903 e morreu em 1939, ainda em atividade, mas em fim de carreira. Quando a Alemanha de Adolf Hitler anexou a Áustria como seu território também os jogadores austríacos foram obrigados a servir a seleção germânica, mas Sindelar negou-se de forma absoluta a obedecer às ordens da Gestapo e passou a receber um duro tratamento e uma perseguição que culminaria na sua morte em circunstâncias trágicas em 1939 com apenas 36 anos. Nos registros da Gestapo consta que ele se suicidou juntamente com sua mulher fechando o apartamento em que vivia e abrindo o gás do fogão. Para os austríacos jamais essa versão foi aceita e o certo é que Sindelar, o maior craque do país, foi na verdade assassinado pelos agentes da polícia secreta alemã. Negando-se a vestir o uniforme dos alemães Matthias Sindelar manteve-se fiel ao seu país e é até hoje reverenciado como um dos seus heróis.