Cada governante com suas manias. Idi Amin, ditador de Uganda, dizia que conversava com Deus. Um jornalista jogou a pergunta: “quando”? Ele: todas as vezes que se faz necessário. Um contador de lorotas. A história registra casos de governantes que se colocavam em pé de igualdade com Deus. Em Gana, os ganenses comparavam o ditador Nkrumah a Confúcio, Maomé, São Francisco de Assis e Napoleão. Ele é “imortal, nosso messias”. Franco proclamava-se “Caudilho da Espanha pela graça de Deus”.
Giscard D’Estaing, chegando à presidência da França, inventou maneiras de popularizar sua imagem. Tocava acordeon em praças públicas, andava a pé por Paris, ia ao teatro com a família, tomava café com varredores de rua, desfilava com seu cão amestrado. Um adepto do dandismo, fenômeno que explica pessoas que têm o prazer de espantar. Foi criticado por exagerar a dessacralização do poder.
Já outros se levam mais a sério. Convidado numa festa a tocar cítara, Temístocles, o ateniense, altivo e poderoso, respondeu: “não sei tocar música, mas posso fazer de uma pequena vila uma grande cidade”. De Gaulle, eis um general que impunha respeito. Não precisava se enfeitar nem adoçar as palavras para impor autoridade. John Kennedy brilhava na frente de uma câmera de TV. Nixon, por sua vez, era uma lástima.
O fato é que os governantes, cada um a seu modo, se esforçam para dar brilho à imagem. Um presidente, um magistrado, mesmo um representante da esfera parlamentar, autoridades de quaisquer áreas se vestem com um manto litúrgico. Sob o qual se abrigam os valores do respeito, da ordem, da credibilidade, da disciplina, da norma imposta pelo cargo. Quando um destes figurantes maltrata uma liturgia criada pelo dever e princípios que regulam os comportamentos da autoridade, está ele rebaixando o seu conceito.
Deve-se respeitar as pessoas como elas são. Mas é sábio que todos procurem preservar a ordem que se estabelece para cumprimento retilíneo das tarefas que cabem a quem se investe de poder.
O general Temístocles, o general De Gaulle e tantos outros grandes personagens deram exemplos de grandeza e autoridade. Mulheres também. Margareth Tatcher foi zelosa governante. Imbuída de princípios. Tinha um repertório cheio de grandes ideias. Até o Brasil mereceu dela esta reprimenda: “Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional”.