Ontem fui dormir na noite grande, colocando a conversa em dia com a minha filha mais nova. Bem, as férias estão chegando e a casa de quem já tem filhos casados muda completamente de rotina. É um vai e vem sem fim. Tinha a história daquele jovenzinho que já pode até vir de avião sozinho! E a mocinha, então? Virou cidadã do mundo e já está de malas prontas. Enfim, tínhamos assuntos que não acabavam mais...
Talvez porque a sala estava um pouco escura, mas eu olhava para a minha filha buscando os traços da pequena menina que eu gostava de contar histórias, mas encontrava apenas o rosto de uma mulher feita. Quem falava mais era ela. Eu escutava atento, com a sensação de que aos poucos os papéis começam a se inverter... Pois é, quando era pequenina, ela pedia sempre que eu repetisse aquele conto famoso, “A nova roupa do rei”, de Hans Christian Andersen (1805-1875). Lembra-se? Diga-se de passagem, caso esse escritor dinamarquês fosse vivo e tivesse seu próprio canal nas redes sociais, seria um arraso. Muito melhor do que os tais “influencers” que andam soltos por aí, não é mesmo? Afinal ele é o autor de “O Patinho feio”, “A Pequena sereia”, “O soldadinho de chumbo”, “A Polegarzinha”, e muitas outras histórias infantis. Não é incrível?
Voltemos para o conto preferido da minha pequenina filha. Diziam que o rei era muito vaidoso e que gostava de vestir roupas luxuosas. Dois espertos tecelões souberam da vaidade do rei e decidiram enganá-lo. Eles fingiram tecer o tecido mais fino e especial do mundo, porém, na verdade, não estavam tecendo nada. Eles convenceram o rei de que apenas as pessoas inteligentes poderiam ver e apreciar o tecido. O rei, temendo parecer estúpido, concordou em usar o tecido invisível e desfilou pelas ruas com seu novo traje, esperando receber elogios pela sua suposta roupa magnífica.
A multidão, em silêncio, observava com admiração, alguns sussurrando entre si sobre a suposta magnificência da roupa invisível do rei, o que só aumentava a sua vaidade. De repente, uma criança interrompeu o silêncio que envolvia a multidão. Com um dedo apontado para o monarca, a criança exclamou em voz alta: “Mas o rei está nu!”. À medida que as palavras da criança se espalhavam pela rua, algumas pessoas sussurravam em incredulidade, outros riam nervosamente, incapazes de ignorar a verdade simples e direta pronunciada pela criança. E o rei? Bem, a situação ridícula o atingiu de forma avassaladora e foi visto correndo envergonhado pelos labirintos da cidade. Quem nunca viveu um dia de rei como este, não é mesmo?