Símbolo de superação e talento, João Carlos Martins iniciou seus estudos de piano aos 8 anos, e três anos depois começava sua carreira no Brasil. Aos 18, já tocava no exterior. Hoje é considerado um ícone da música clássica brasileira e um dos maiores intérpretes de Johann Sebastian Bach. Por problemas físicos, abandonou os palcos como pianista em 2002. Porém, retornou ao mundo musical em 2004 como maestro. Atualmente, aos 73 anos, é regente e diretor-artístico da Bachiana Filarmônica Sesi-SP. Lançou 25 álbuns e escreveu um livro emocionante sobre sua vida. Hoje, ele e sua orquestra estarão no Sesi (Serviço Social da Indústria) do parque Furquim em Presidente Prudente, a partir das 20h, quando mostra seu trabalho para 500 pessoas. Amanhã, no Centro de Eventos da Orla de Presidente Epitácio, no mesmo horário, se apresenta para 3 mil. Mesmo com as duas apresentações gratuitas, os convites foram retirados antecipadamente e estão esgotados. O maestro, com exclusividade ao jornal O Imparcial, falou sobre sua vida e sua relação com a música.
Hoje e amanhã, acompanhado da orquestra, ele se apresenta em PP e Epitácio, respectivamente
O IMPARCIAL: Como e quando foi fundada a Bachiana Filarmônica?
JOÃO CARLOS MARTINS: Quando iniciei o projeto de criar uma orquestra apenas com a iniciativa privada, em 2004, muitos duvidaram, mas já são mais de mil apresentações nos principais teatros do Brasil e do mundo. Neste ano, a Bachiana Filarmônica Sesi-SP completa dez anos. Apesar de estar somente dando os primeiros passos da iniciativa privada na música, a orquestra quer provar que no futuro ela não dependerá das mudanças de governo que acontecem em uma democracia e, se Deus quiser, ela terá a liberdade de continuar a democratização da música clássica no país. O Brasil, durante o século 20, mostrou que qualquer orquestra de ponta só funcionaria na base do apoio municipal, estadual ou federal. Eu quis provar que a força da iniciativa privada poderia trazer para o Brasil um modelo norte-americano que gerou algumas das principais orquestras do mundo. E eu costumo dizer que graças à iniciativa da Fiesp e do Sesi, a Bachiana Filarmônica Sesi-SP deixará sua marca no cenário musical brasileiro. O nome Bachiana é uma homenagem a Villa-Lobos e a Johann Sebastian Bach, que considero o maior compositor brasileiro e o maior compositor de todos os tempos, respectivamente.
OI – Onde costumam se apresentar?
MARTINS - A orquestra realiza 70% dos seus concertos com ingressos gratuitos, razão pela qual atingimos nestes dez anos 10 milhões de pessoas ao vivo, assim distribuídas: 2 milhões em recintos fechados, 3 milhões em concertos ao ar livre e 5 milhões em megaeventos em coparticipação. Se todos os artistas clássicos fizessem a mesma coisa, certamente, estaríamos em outro patamar.
OI - Como serão os eventos em Prudente e Epitácio? O que as pessoas podem esperar nestas duas apresentações?
MARTINS - Serão dois concertos da Bachiana Filarmônica Sesi-SP com entrada gratuita. No programa, estão obras de Beethoven ("Sinfonia nº 4 em Sim Bemol Maior – Opus 60"), Bach ("Ária da 4ª Corda"), Nigel Hess ("Ladies in Lavender") e duas sinfonias de Haydn ("Sinfonia da Despedida" e "Sinfonia dos Brinquedos"). Vou reger a orquestra em quase toda a apresentação e tocarei piano em duas peças: "Ária da 4ª Corda" e "Ladies in Lavender".
OI - Qual a importância da música na vida das crianças e adolescentes?
MARTINS - Eu fui escolhido pelo universo fantástico da música clássica e sempre procurei a excelência musical aliada à responsabilidade social. Foi a forma que eu encontrei para retribuir o dom da música que recebi. Estou à frente de um projeto chamado A Música Venceu, que atende 4,7 mil crianças e adolescentes em 37 núcleos localizados em áreas carentes do Brasil. Com esse projeto, os jovens aprendem noções de música clássica. A maior parte desses alunos nunca teve contato com um instrumento musical antes de entrar nesse projeto. Nosso foco principal é o ensino da música. Aproximamos um novo público deste universo maravilhoso e temos, em primeiro lugar, o objetivo de formar um público apreciador de música clássica. Também queremos que as crianças e adolescentes possam ter a música como forma de expressão sem que seja ofício ou profissão. Em um momento seguinte, esperamos formar jovens que venham a ter a música como profissão. Finalmente, temos o objetivo de descobrir talentos musicais, diamantes a serem lapidados, que trarão muito orgulho ao nosso país.
OI - O senhor é símbolo de superação. Como é passar e ensinar aquilo que lhe deu e lhe dá tantas alegrias para os mais jovens?
MARTINS - A música pode ajudar os jovens a encontrar seu caminho e é um segmento importante para a inclusão social. Estamos desenvolvendo um método de ensino musical chamado Método a La Corda, que pretendemos implementar em escolas. Com pouco mais de um ano de ensino, é possível colocar uma orquestra infantil para tocar peças de Vivaldi. O método foi criado pelo professor Ênnio Antunes, que trabalha comigo há alguns anos, e atualmente já está sendo implementado no projeto A Música Venceu, que coordeno junto com a Fundação Bachiana.
OI - Como foi para o senhor abandonar o piano e retornar ao mundo musical como maestro?
MARTINS - Quando os médicos disseram que eu não poderia mais tocar nem com a mão esquerda nem com a direita, aquilo parecia um pesadelo. Mas sonhei com o maestro Eleazar de Carvalho, que me recomendou estudar regência. Depois daquele sonho, no dia seguinte, o maestro Júlio Medaglia me deu a primeira aula de regência. Eu já tinha 63 para 64 anos quando comecei a estudar. No início, foi devastadora a interrupção da carreira como pianista, mas o que prevaleceu foi, apesar de alguns percalços, o amor à vida e antes de tudo o amor à música.