Nos últimos dias, muito tem se falado sobre o surgimento da variante do novo coronavírus batizada como Ômicron. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou cinco casos desta nova linhagem. Mas, afinal, o que é a cepa Ômicron?
O médico infectologista e doutor em imunologia, Luiz Euribel Prestes Carneiro, explica que, identificado pela primeira vez na África do Sul, esta nova variante está gerando preocupação entre os cientistas por causa de um número excepcionalmente alto de mutações, o que pode tornar o vírus mais transmissível e menos suscetível às vacinas existentes. “A OMS [Organização Mundial da Saúde] chamou a Ômicron de uma “variante de preocupação”. As variantes de preocupação, especialmente a Ômicron, têm um alto poder de transmissão, infectando um número cada vez maior de pessoas”, explica.
Ainda segundo Euribel, especialistas em saúde pública de todo o mundo são unânimes em pedir cautela, observando que ainda não há evidências consistentes de que a Ômicron é mais perigosa do que variantes anteriores, como a Delta. As primeiras pesquisas, segundo ele, mostram que a cepa infecta principalmente as pessoas não vacinadas, que podem evoluir com sintomas mais graves. Em pessoas vacinadas, por enquanto, está se comportando como as variantes Alfa, Beta, Gama e Delta.
Euribel acrescenta que existem algumas evidências de que a variante pode reinfectar pessoas mais facilmente. Além disso, a maioria dos pacientes que estão sendo atendidos na África do Sul e em Israel não perdeu o paladar e o olfato, e apresentou apenas uma leve tosse, especialmente aqueles já vacinados. O médico também reforça que as vacinas atuais podem não ter uma eficácia tão boa contra o vírus para qual foram produzidas, mas têm um grande impacto na redução da probabilidade da pessoa evoluir para um quadro grave e morrer. “É consenso atualmente, que, na medida em que novas cepas forem surgindo, novas vacinas contendo as variantes terão que ser produzidas”.
O médico infectologista André Luiz Pirajá da Silva, por sua vez, acrescenta que é importante lembrar que tudo é Covid-19 e a sintomatologia tende a ser muito parecida. O que a Ômicron tem de diferente, até então, são as mutações na proteína “S”, o que gira entorno de 50. Tal proteína, inclusive, é responsável pela entrada do vírus nas células humanas, e algumas vacinas de tecnologia moleculares/RNA-mensageiro utilizam desse mecanismo. “O grande medo é essas vacinas perderem a sua eficácia. Contudo, estudos preliminares têm mostrado que isso não tem sido verdadeiro, apesar das mutações. Ainda são necessários mais estudos, mas parece que não teve uma grande perda de eficácia”, explica.
Ainda segundo o médico, o vírus tem essa capacidade de melhorar a sua genética para ganhar benefícios, ou seja, aumentar a sua transmissibilidade. Mas, adianta que uma regra da virologia – que não quer dizer que seja 100% exata – é que quanto mais transmissível o vírus, ele tende a ser menos letal, ou seja, sua taxa de mortalidade tende a ser menor. “Até então, parece que isso é verdade, ou seja, a Ômicron é mais transmissível, porém, com uma letalidade menor. Mas, isso só vamos saber com o tempo e com estudos mais avançados, além de precisar entender se ela vai sobrepujar a variante Delta, que é a predominante no momento”.
Atualmente, segundo Pirajá, o Brasil tem uma vantagem em relação aos demais países, inclusive da Europa, uma vez que tudo que acontece nessas regiões chega à nação brasileira de forma um pouco mais tardia, seja com intervalos de semanas ou meses. Então, é o tempo da população aprender como lidar com a situação. “A importação de cepa para o Brasil e o mundo é completamente imprevisível. Observe que essa cepa foi descoberta na África do Sul, mas já tinha sua presença na Holanda. Então, de onde surgiu essa cepa não dá para saber”.
O médico infectologista também acrescenta que o Brasil pode retardar essa chegada e disseminação “diminuindo a flexibilização de pessoas que entram e saem do país”. Contudo, isso precisa ser visto com muito cuidado, uma vez que pode causar muita discriminação social. O mais importante, segundo ele, é que todas as pessoas que chegarem de fora, brasileiros ou não, passem por testes e mantenham o isolamento social de 14 dias.
Deste ponto de vista, é relevante mencionar, segundo Euribel, que o Brasil tem muitas fronteiras, tanto aéreas quanto terrestres. Logo, como as pessoas infectadas podem estar assintomáticas por vários dias, elas podem transmitir o vírus quando vindas de países onde a variante está circulando. Isso, inclusive, está acontecendo em todos os lugares do mundo.
A melhor forma de prevenção, segundo os infectologistas, continua sendo a associação de vários mecanismos de defesa, como o distanciamento social, o uso de máscara e álcool em gel, e a imunização, que vai diminuindo a possibilidade de transmissão e o risco de óbito do paciente.
Os médicos também lembram que a população que se recusou a se vacinar está mais vulnerável não só contra a variante Ômicron, mas quanto às demais. Tal atitude faz com que o vírus continue circulando, e, uma vez infectada, corre o risco de ter a forma mais grave da doença.
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