Nas últimas semanas, muito tem se falado sobre a variante Delta, que é mais transmissível e começa a ganhar força no Brasil. A Sociedade Paulista de Infectologia, inclusive, considera que a nova cepa, identificada pela primeira vez na Índia, é duas vezes mais transmissível, e que uma pessoa infectada expele até mil vezes mais vírus que aquela com Covid-19 causada por outra linhagem.
O médico infectologista e doutor em imunologia, Luiz Euribel Prestes Carneiro, explica que desde o início da pandemia surgiram inúmeras variantes da Covid-19, e aquelas encontradas em um grande grupo de pessoas e que são potencialmente perigosas, são chamadas de variantes de preocupação. A variante Delta, segundo o médico, foi identificada pela primeira vez na Índia, em dezembro de 2020. Em seis meses, ela se espalhou para 85 países e nos Estados Unidos e Europa se tornou a cepa dominante da Covid-19. “A variante Delta é a versão mais infecciosa do vírus Covid-19 até o momento. É extremamente contagiosa, mais do que qualquer outra variante. O CDC [Centro de Controle de Doenças], dos Estados Unidos, demonstrou que a Delta se espalha de pessoa para pessoa mais rapidamente do que o vírus do resfriado comum ou da varicela”, detalha o médico.
Euribel acrescenta que a variante Delta infecta pessoas com uma intensa carga viral, o que significa que elas exalam mais partículas de vírus para outras pessoas se infectarem. Além disso, destaca que outra característica é que o vírus se liga fortemente ao receptor celular das pessoas – o que aumenta a possibilidade de infecção – e, que, embora os estudos ainda não sejam conclusivos, o risco de hospitalização após a infecção com a variante Delta pode ser 85% maior do que com a Alfa, por exemplo.
O médico infectologista André Luiz Pirajá da Silva, por sua vez, explica que o vírus tem que se perpetuar, ou seja, ele é um parasita intracelular obrigatório que necessita do corpo humano para sobreviver. Desta forma, a mutação que ocorre quando o vírus vai se multiplicando faz com ele tenha alterações, e algumas delas são vantagens, “superpoderes” que o vírus ganha. Ou seja, ele obtém uma forma de burlar o sistema imunológico ou de se tornar mais transmissível, que foi o que aconteceu com a variante Delta.
No entanto, reforça que a variante Delta, Gama, Lambda entre outras, são todas Covid-19 e terão as mesmas sintomatologias do vírus. “Como o vírus tem esse escape do sistema imunológico, ele tem uma finalidade de não matar o hospedeiro, que é o que aconteceu com a variante Delta. Além de se tornar mais transmissível, ‘em paciente jovem’ ocorreu uma mutação que deixou os sintomas iniciais mais brandos, parecendo sintomas gripais, ou seja, há mais coriza, tosse, vômito e diarreia, porém, os sintomas gerais como um todo são de Covid-19”, explica.
Tal situação, segundo Pirajá, é o grande problema, uma vez que a variante Delta, por ser mais transmissível e nos jovens ter sintomas “inicialmente mais leves”, pode ocasionar uma transmissão maior na comunidade. “A variante Gama, por exemplo, é entorno de 60% mais transmissível do que a Covid-19 original. Já a variante Delta chega a ser 90% mais transmissível do o vírus original. São essas situações que devem ser levadas em consideração, ou seja, as evoluções/ganhos que o vírus adquire”.
O médico infectologista Luiz Euribel detalha que, recentemente, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, anunciou que duas doses da Coronavac podem contribuir na proteção contra a variante Delta, e que vários estudos publicados já demonstraram a eficácia de outras vacinas como Pfizer, Astrazeneca e Janssen contra a cepa. No entanto, enfatiza que uma única dose oferece apenas cerca de 50% de proteção e receber a segunda dose é fundamental. “É possível que as pessoas vacinadas ainda possam ser infectadas com a variante Delta, mas essas infecções são raras. Quando ocorrem, são provavelmente menos graves do que infecções em pessoas não vacinadas. As vacinas provaram ser altamente eficazes na prevenção de doenças graves e morte, mas não são 100% garantidas para impedir que as pessoas contraiam o vírus”.
Pirajá acrescenta que a “imunização perfeita” ocorre com as duas doses tomadas após duas ou quatro semanas, e, que, a imunidade neste sentido é coletiva, ou seja, ela precisa de uma proteção de toda sociedade com no mínimo 85% da população já vacinada. “Quando temos 50% da população imunizada, e um quarto com segunda dose, temos uma grande gama da população com apenas uma imunidade parcial, e isso pode ser um experimento para o vírus ganhar certo upgrade sobre a vacina – aprender como burlar o sistema imunológico criado através do sistema de imunização”.
A melhor forma de prevenção, segundo Pirajá, é a associação de vários mecanismos de defesa como o distanciamento social, o uso de máscara e álcool em gel, e a imunização, que vai diminuindo a possibilidade de transmissão e o risco de óbito do paciente. “A associação de vários fatores protetivos é a melhor forma de impedir a propagação do vírus”, reforça.
Euribel reforça que tais medidas são fundamentais para a proteção contra novas infecções mesmo nos indivíduos já vacinados com duas doses. Dados atualizados do Ministério da Saúde, segundo ele, mostram que idosos acima de 60 anos voltaram a ser o principal grupo de pessoas internadas com Covid-19. “Por terem sido imunizados abaixam a guarda e passam a ignorar o fato que o vírus ainda continua circulando”, enfatiza o médico. “Como não temos um programa de vigilância e rastreamento eficiente, e a constatação da variante até esse momento só é possível com sequenciamento genético, um exame feito em pouquíssimos centros e caro, é muito provável que esse número seja subdimensionado em todos os Estados”, acrescenta.
O doutor em imunologia explica que os vírus são criados para sofrer mutação. Com cada mutação, uma variante nova e mais forte pode surgir e a melhor maneira de prevenir é vacinar o maior número possível de pessoas e diminuir a circulação do vírus.
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