O primeiro emprego

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 18/08/2024
Horário 04:08

Meu pai tinha apenas 18 anos quando assumiu o seu cargo de bancário na agência do Banespa de Presidente Venceslau. Era meados da década de 1950 e aquela agência possuía uma das maiores carteiras agrícolas do estado de São Paulo por causa da riqueza gerada pela cultura do algodão. Ele sempre me contava que tinha um excelente salário e muito prestígio para um jovem forasteiro. No primeiro pagamento, a principal compra que o meu pai fez foi de um elegante terno de linho branco que ele usava no “footing”, os famosos passeios a pé pela Praça Coronel Miguel Brizola de Oliveira, conhecida como a Praça do Bosque. 
A aceleração da criação e da implementação de novas tecnologias modificou completamente o mercado de trabalho. Hoje é preciso que as pessoas se atualizem permanentemente em seu ramo profissional e desenvolvam a habilidade de mudar a atividade laboral em decorrência das transformações tecnológicas.
Em 2022, o Fórum Econômico Mundial realizou um estudo para avaliar as transformações no mercado de trabalho previstas para ocorrer entre 2023 e 2027. O estudo avaliou de que forma mudanças nas atividades produtivas, na estrutura das empresas e dos Estados, decorrentes ou não do surgimento de novas tecnologias, impactaram o mercado. De acordo com as projeções, 14 milhões de empregos deixarão de existir entre 2023 e 2027, o equivalente a um encolhimento de 2% do mercado de trabalho. Conforme esse estudo, em escala global, as áreas de atuação profissional que devem crescer em número de vagas são as de inteligência artificial, sustentabilidade e inteligência de mercado. As áreas que verificam declínio são as relacionadas a atividades de secretariado, como atendentes e caixas bancários. 
Embora as fábricas continuem sendo vitais para a produção de bens físicos, a ascensão das plataformas digitais conecta trabalhadores e consumidores de serviço diretamente através de aplicativos. Neste novo ambiente, a ideia de realização pessoal passa a ser um dos principais motores da escolha do emprego. É por isso que a geração da minha neta de 17 anos sonha com um mercado de trabalho muito diferente do primeiro emprego do meu pai. Ela busca oportunidades que ofereçam flexibilidade, oportunidades de aprendizado e um clima de colaboração. Infelizmente, a dura realidade da platamorfização do trabalho exclui desse sonho a maioria dos jovens de hoje porque gera precarização, incertezas econômicas, trabalho informal e contratos temporários. É como diz o ditado popular: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. 

 

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