O planeta azul

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 06/10/2024
Horário 05:00

Durante os meus quase 40 anos de atividades no magistério, a exploração espacial foi um assunto frequente nas minhas aulas. Quando jovem tinha verdadeiro fascínio pelas aventuras de Yuri Gagárin, que entrou para a história quando disse “A Terra é azul”! Isso aconteceu em 12 de abril de 1961, quando esse astronauta russo permaneceu em órbita ao redor da Terra a 300 quilômetros de altura e a 29 mil quilômetros por hora. A partir dessa data, houve muitas outras expedições ao espaço e inúmeras imagens da superfície terrestre foram produzidas e apareceram em jornais, revistas, no cinema e na televisão.
Lembro-me das primeiras aulas que lecionei para as turmas de 6º ano do Colégio Equipe de São Paulo. Eu gostava de provocar as crianças com as ideias antigas de que a Terra era plana e se localizava no centro do universo. Para pensar a partir desse ponto de vista, eu propunha que as crianças analisassem o movimento aparente do sol, da lua e das estrelas. Afinal, aos olhos de um observador que está na superfície terrestre, esses astros parecem nascer de um lado do horizonte, percorrer um caminho no céu e se esconder do lado oposto.
Essa discussão era uma oportunidade para a observação das estrelas e seu agrupamento em constelações, identificadas pelos desenhos que elas formavam no céu. Tais agrupamentos eram explicados no Mundo Antigo através das histórias de deuses. É o caso do mito de Órion e Escorpião, por exemplo. Segundo os gregos, Órion era um caçador que corria o risco de ser ferido mortalmente por um escorpião. A Constelação de Órion desaparece no horizonte quando a Constelação de Escorpião surge do lado oposto, daí a origem dessa história mitológica.
Mas as minhas aulas não paravam na mitologia. Explorávamos as aventuras das grandes descobertas marítimas do século 15 e 16. As crianças tinham que explicar porque os navios começavam a desaparecer quanto atingiam a linha do horizonte: primeiro o casco, depois as velas, até desaparecer o mastro. Outro fato que aguçava a curiosidade era a existência no céu de estrelas desconhecidas e jamais observadas pelos navegantes nas suas terras de origem. Como uma superfície plana e que era o centro do universo poderia apresentar um céu estrelado diferente em cada localidade?
Recentemente, quando fiquei sabendo que 12 milhões de brasileiros acreditam fielmente que a Terra é plana, pensei que era uma piada de mau gosto. Mas essa crença já fazia parte do macabro movimento que procura encurralar os jovens brasileiros no abismo da ignorância. Aviso aos navegantes: nunca vou desistir de aguçar o poder de observação e a capacidade de duvidar da aparência das coisas.
 

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