Sabe como eliminar as infrações de trânsito? Parando de fiscalizar! E como acabar com a corrupção? Deixando de investigar! E poderíamos avançar nessa lista de exemplos infindos. Há tempos este espaço está autossilenciado em assuntos políticos. As pessoas querem unguento sem o sacrifício e a dor do tratamento; não poucas vivem de pensamento mágico e de discursos que não se sustentam por mais tempo que uma pedra de gelo no asfalto ao meio-dia. O opinionismo não aceita argumentos discordantes. A realidade é ‘second life’ [“um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares”].
Dia desses um jovem que pedia no semáforo, fixando-me nos olhos, perguntou: “o senhor já passou fome na vida?”. Tiro certeiro! Reflito sobre a dura experiência humana de gente que invisível singra com seu sofrimento pelas ruas de nossas cidades. Os noticiários mostram, por exemplo, o quanto as ‘pessoas de bem’ resistem ao trabalho de socorro feito aos ‘impuros’ da atualidade. Aqui na cidade pelo que vejo e ouço, há um nível de sensibilidade menos bruto. Voluntários visitam as ruas e procuram olhar as pessoas e dar-lhes um pouco de atenção, de comida, de vestes e de dignidade. Enquanto isso, a sociedade (especialmente de ‘invisíveis’ transeuntes sem-teto) espera política pública que acolha e sare as pessoas sem o interesse de apenas angariar votos nas próximas eleições.
O que me fez sair do autossilenciamento? A notícia: “pesquisa divulgada nesta quarta-feira (8) revelou que o número de pessoas que passam fome no Brasil subiu para 33 milhões. O país voltou ao patamar de 30 anos. A fome se mostrou em todo o país como nunca. Impossível desviar o olhar”; “Situação no país retrocedeu, e 6 em cada 10 convivem com insegurança alimentar hoje”; mais, “106 milhões de brasileiros sobreviviam com R$ 13,83 por dia em 2021, diz IBGE”. A dor do outro me olha e me exige caridade!
Na próxima quinta-feira, os católicos celebraremos a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo (Corpus Christi). A Eucaristia é a presença real de Jesus vivo no meio do seu povo. Jesus é o Pão vivo descido do céu para saciar a fome do mundo. Nossas igrejas têm boa frequência de fiéis que se alimentam do Corpo do Senhor. Não sei se temos fiéis alimentados que pelas ruas alimentam material e afetivamente a outros. O Corpo de Cristo anda maltrapilho e ultrajado nas ruas; faminto e pedindo: “dá-me de comer”. Disse o bispo poeta-profeta: “Tudo é relativo, menos Deus e a fome” (Pedro Casaldáliga).
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!