Quando engravidamos do João Guilherme, que nesta semana chegou aos seus cinco anos de vida, caímos num turbilhão de sentimentos incomparável. O exame positivo em mãos, um mês após liberarmos os métodos contraceptivos, nos trouxe lágrimas aos olhos e alegria à alma. Que vontade de gritar para o mundo! E fizemos! Com o primogênito, o medo de errar era tamanho, e às vezes ainda é, que a ansiedade tomou conta do meu corpo na mesma proporção em que a barriga da mamãe cresceu. Queria ser um bom pai, ofertar o de melhor de mim, saber fazer de tudo, dividir as funções com minha esposa, estar presente, dar banho, trocar, ninar, amar...
"Ele não sabe"... "Não vai conseguir"... "Isso não é função de homem"... "É melhor você pegar o bebê!"... "Na minha época homem não fazia isso"... "Seu marido vai ficar com a criança?"... As frases, que já mencionei em outros artigos, vinham de todos os cantos e buscavam me imobilizar no lugar onde a maioria dos homens esteve ao longo da história: na provedoria financeira do lar!
Os apontamentos ecoam assim que os bebês chegam à nossa vida e decidimos pela paternidade ativa. Calma! Eles são naturais, ainda norteados pelo choque de gerações, machismo, feminismo ou mesmo ignorância quanto à capacidade do homem para desempenhar estas tarefas. Não discuta, mostre na prática. Eu nunca quis o rótulo de pai pelo status, ou mesmo por "ajudar" minha esposa nas tarefas com os meninos. Eu não ajudo, eu divido, de igual para igual, no meu papel da vida real. Isso nunca anulou em nada a função da mãe, que amamenta, acalenta, também protege, educa e é indispensável na vida deles, assim como também eu sou!
Em 2012, tive o maior privilégio, por conta do expediente noturno na Redação do jornal ao qual trabalho, de cuidar do meu mais velho uma boa parte do dia... E, por maior que fosse a dependência materna e muitas vezes eu me sentisse inservível quando a mamãe desembarcava do trabalho, nesta relação eu construía, mesmo que inconscientemente, o primeiro maior laço de amizade da minha vida!
Agora, um ciclo se reinicia, com o João Rafael, em seus 4 meses de doçura. Como os dedos da mão, os filhos são diferentes uns dos outros. E os sinais já estão evidentes. A nossa família vive um momento dessemelhante daquele de cinco anos atrás. Ainda assim espero fazer o mesmo com meu segundo filho, obviamente amparado pelos meus erros para não cometê-los novamente, porém com a expectativa de que aquilo que deu certo pode ser repetido.
Assim que o João Guilherme nasceu, eu nasci. Naquele mesmo dia, conhecemos a canção nova e tínhamos a missão de identificá-la quando seria fome, colo, sono, fraldas... Ah, que pavor de não saber o que ele precisaria... Tudo passou! Eu nasci... Naquele primeiro ano, não menos atrapalhado, papai abotou o macacão errado, chegou a passear com a roupa do avesso, colocou tênis nos pés trocados, não o prendi corretamente e a cadeira de balanço virou... foram tantos erros na tentativa de acertar. Foram muitas autocobranças... Tudo passou! Eu nasci...
A nossa sorte foi ter a mamãe para nos socorrer... Muitos casos ficaram em off entre nós três...outros, só com os dois... Naquele primeiro ano, não houve um dia sequer com oito horas de sono ininterruptas... e ainda muitas não são! Entretanto, nunca imaginei fazer da madrugada um momento tão prazeroso para rezar, conversar e contemplar suas transformações e necessidades... Eu chorei também, e muito... me senti esgotado, cansado, estafado para cumprir a rotina, mas venci! Tudo passou! Eu nasci...
Meus filhos vieram no tempo de Deus, avassalaram nosso coração, entraram sem bater à porta, transformaram a nossa rotina, exigiram mudanças, nos cobram paciência, dedicação, respeito por suas limitações e muito amor. Em troca, nos ofertam o brilho nos olhos, o sorriso no canto dos lábios, os gestos incontidos, a alegria ao nos receber. Nos oferecem única e exclusivamente quem são! Neste dia a dia, eu os ensino, eles me ensinam. Eu aprendo, eles aprendem! Aliás, eles nasceram e eu nasci...
E neste nascimento, batalho pelo incentivo a outros papais para que se lambuzem nas trocas de fralda, que fechem os botões errados do macacão, que segurem de forma desengonçada o bebê no colo, que perguntem mais de uma vez sobre o mesmo assunto para não errar, ou mesmo que apenas se prontifiquem a dividir as funções com a mamãe. Queiram aprender... Não podemos mais enfrentar os preconceitos machistas e feministas de que não podemos ser iguais na mais bela tarefa da vida: criar e educar filhos!
Transformar meu sonho em realidade já bastou. Serei prumo, rumo, esteio, amigo, orientador, professor, pai! Que eu nasça diariamente, em cada alegria e desafio ao criá-los e educá-los... Pois quando eles chegaram, eu nasci!
Dicas de leitura
Um pai de verdade
Rafael tem 7 anos e escreve cartas para o pai, que nunca conheceu. Vive com a mãe e a irmã, Carolina, até que surge Renato, namorado de sua mãe, que se transforma em um pai de verdade para ele e a irmã. Suas emoções mudam e nunca mais ele escreve cartas para o pai imaginário.
Autor: Pedro Bloch
Ilustração: Sérgio Guilherme Filho
Editora: do Brasil
Páginas: 32
Valor: R$ 34,90
Foto: Divulgação
Palavra de filho
Numa emocionante história, pai e filho têm grande dificuldade em se comunicar, em falar de sentimentos e emoções. O filho passa, então, a escrever cartas ao pai. Elas chegam magicamente sopradas e transformam o relacionamento dos dois, aproximando-os cada vez mais. É por meio da palavra que as relações familiares são modificadas e intensificadas.
Autor: Jonas Ribeiro
Ilustração: Flávio Fargas
Editora: do Brasil
Páginas: 32
Valor: R$ 44,40
Foto: Divulgação