O jornalismo em meio às enchentes do RS

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 21/05/2024
Horário 06:00

Em situações como a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, a imprensa acerta e erra, assim como muitas outras instituições envolvidas, como o governo, defesa civil, institutos de meteorologia e por aí vai. 
A questão é que, como aprendi em anos de transmissões ao vivo e de coordenação de telejornais também ao vivo, não se pode questionar decisões tomadas em tempo real. Pode-se, sim, aprender com elas.
Entre os bons acertos do trabalho jornalístico, quero destacar aqui as rádios locais do Rio Grande do Sul, que desde o início das chuvas virou toda a programação, 24 horas, para cobertura da situação, com muita informação de factuais e, principalmente, serviços para a população. E fez isso na internet, usando o YouTube e as imagens que eram geradas pelos repórteres. 
Tal situação só mostra que em relação à internet, o rádio dá de goleada nos outros veículos, porque parece ser o único que entendeu o termo “jornalismo em tempo real”. A televisão patina gloriosamente neste sentido e só consegue agir quando é muito provocada. 
A grande imprensa televisiva brasileira, aliás, mostrou com o episódio que vive mesmo no mundinho dela entre São Paulo e Rio de Janeiro. Demorou a entender a gravidade da situação e só deu destaque mesmo quase quatro dias depois em que a maioria das cidades estava debaixo d´água. 
O jornalismo da Globo precisou tomar um “puxão de orelha” da direção da emissora para deslocar toda a infantaria para lá, sob comando do general Bonner; e o SBT quando foi, virou notícia acusado de generalizar uma fake news, de que caminhões com doações estavam sendo multados.
Destaque negativo também, mas aí não é novidade para ninguém, é o setor de entretenimento travestido de Jornalismo. São os “Cidades Alertas” da vida. Muita gritaria, apresentadores exaltados atrás de audiência, foco em pautas idiotas, discursos vazios do tipo “O melhor do Brasil é o brasileiro” e pouquíssima ação em nome das pessoas que realmente precisam de ajuda informativa. 
O excesso de fakes news sobre as enchentes, provocadas por disputas políticas e ideológicas que não estão nem um pouco preocupadas com a vida humana, porém, mostrou que a população só está a salvo mesmo quando segue o jornalismo profissional para se informar. 
Todo mundo é livre para escolher onde quer se informar, mas basta ter um pouco de consciência cidadã para perceber que não é no WhatsApp e nem em perfis ideologicamente marcados que conseguirá informação decente para entender qualquer caso. 
Toda fake news se combate com a verdade e, neste caso do Rio Grande do Sul, o trabalho das agências de checagem foi fundamental para livrar a população de muitos golpes. A Agência Pública é um dos exemplos, assim como seções como “Fato ou Fake”, do G1, que sempre me orientam quando uma pulga resolve parar atrás da orelha. 
Enfim, o trabalho ainda é extenso e deve ser intenso por parte da imprensa porque depois da tempestade, neste caso, não vem a bonança, e sim toda luta para recuperar cidades e vidas inteiras afetadas. E é hora sim, se não já não passou do tempo, de colocar no centro do debate a questão da emergência climática, a culpa dos desmandos governamentais e a leniência dos políticos que não investem em prevenção de desastres porque isso “não dá voto”.  

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