Como você vê o impacto da IA na sua profissão? Essa é uma pergunta que cada vez mais professores deveriam estar se fazendo, já que a inteligência artificial (IA) rapidamente está transformando o cenário educacional. Com avanços que incluem tutores de IA que aceleram o aprendizado, o debate já não é mais sobre se a profissão de professor será afetada, mas sim até que ponto ela mudará.
Estudos recentes dão uma pista sobre a dimensão dessa transformação. Em Harvard, por exemplo, uma pesquisa com 194 estudantes de Ciências Físicas revelou que aqueles que utilizaram tutores de IA aprenderam o dobro em menos tempo do que os que frequentaram aulas presenciais. Esse resultado não só destaca o potencial de eficiência da IA, como também levanta uma questão inquietante: o modelo atual da carreira docente poderia estar caminhando para uma revisão radical, ou até mesmo para uma possível obsolescência em alguns contextos?
Esses tutores digitais não apenas facilitam o aprendizado rápido, mas também oferecem uma vantagem inesperada: a interação sem julgamentos. Alguns estudantes relatam preferir os tutores de IA, pois eles respondem a perguntas sem criticá-los, como é o caso do “CS50 Duck”, um chatbot orientado pelo professor David Malan, de Harvard, que auxilia alunos em dificuldades com códigos de programação. Essa receptividade dos alunos à IA é um sinal de que a tecnologia pode preencher lacunas de apoio acadêmico que professores nem sempre conseguem atender, seja por limitações de tempo, seja por barreiras de comunicação.
A relevância da IA no ensino superior também reflete em um movimento de democratização. Tutores de IA proporcionam uma educação personalizada e acessível, aproximando o conhecimento de alunos que antes não tinham acesso aos recursos de instituições renomadas. Essa realidade é vista como uma revolução inclusiva por figuras influentes, como Bill Gates, que defende o uso da IA como um recurso essencial no preparo de estudantes para o mercado de trabalho.
No entanto, essa transformação está longe de ser aceita unanimemente. Embora os ganhos em áreas técnicas e exatas sejam evidentes, há uma resistência significativa nas ciências humanas, onde o aprendizado profundo e analítico é essencial. Professores, como Ian Bogost da Universidade de Washington, expressam preocupação com uma dependência excessiva das IAs, que pode comprometer a capacidade dos alunos em desenvolver habilidades de pensamento crítico e independência intelectual.
A chegada da IA, portanto, desafia o professor a redefinir seu papel, que não será mais o de transmissor exclusivo do conhecimento, mas de facilitador de experiências significativas que complementem as capacidades da IA. Afinal, a IA pode responder a perguntas e realizar cálculos complexos, mas os educadores têm uma responsabilidade única de cultivar o discernimento, o senso crítico e a ética nos alunos.
Resta agora à comunidade educacional decidir como aproveitar esses recursos sem comprometer os valores centrais da educação.
A carreira de professor no modelo atual tende a desaparecer? Talvez não, mas certamente ela se transformará.