O homem diante da morte

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 06/07/2024
Horário 04:30

No livro “O homem diante da morte”, o historiador francês, Philippe Ariès, investiga de forma minuciosa e exaustiva como as sociedades ao longo da história encaravam, interpretavam e ritualizavam o fenômeno da morte. O estudo mostra as diferentes formas de se lidar com o luto e com a finitude da vida, apontando, por exemplo, como a morte era parte do cotidiano no medievo, tornando-se um tabu na contemporaneidade, diante do aumento exponencial da expectativa de vida. Seu maior mérito, a meu ver, é o de provocar a reflexão diante desse fato inexorável da existência. 
Arthur Schopenhauer afirma na obra “Sobre a morte”, ser esse o maior problema filosófico da humanidade. Existem, nesse fenômeno, duas possibilidades filosóficas excludentes. Por um lado, a vida e a consciência se encerram com a morte, ou seja, a morte física do corpo vai trazer o fim da consciência e, portanto, da existência do eu. Por outro lado, existe a possibilidade, segundo o filósofo, de que vida e a consciência persistam após a morte, isto é, que tenhamos outra existência consciente além dessa vida. 
Certamente que, a segunda possibilidade mais nos apetece e não por acaso, têm sido o mote de todas as religiões humanas conhecidas, haja vista que, em todas elas e de diferentes maneiras, se concebe a possibilidade da vida após a morte, da existência de nossa forma espiritual e da continuidade da consciência. O que existe ou não após a morte é uma questão fascinante para a filosofia e para a humanidade.
A relevância do fenômeno despertou o interesse científico, em especial, da medicina e da neurociência, antes as mais céticas em relação a essas possibilidades. Pesquisadores de todo o mundo têm estudado as chamadas E.Q.M. (experiência de quase morte) onde pacientes que sofreram acidentes graves ou paradas cardíacas relatam experiências conscientes durante períodos de coma profundos. Comumente, os pacientes narram estarem conscientes, fora dos seus corpos, observando os médicos trabalhando para salvar suas vidas, dando detalhes minuciosos desses eventos, que seriam impossíveis a um paciente em coma. Também relatam ora situações de conforto e paz, ora angústia e medo. Túneis de luz também aparecem com frequência nesses relatos.
Pesquisas mais recentes, como a da neurocientista, Jimo Borjigin, mostram que, no exato momento da morte, nossos cérebros experimentam uma intensa atividade cerebral, com uma explosão hormonal em que as taxas de dopamina, noradrenalina e serotonima chegam a aumentar mais de 60 vezes. Essa hiperatividade cerebral, em áreas cognitivas do cérebro, ligadas à memória e ao raciocínio, indica que algo acontece no momento da morte, o que ainda pouco se sabe. 
O existencialista Jean Paul Sartre, que acreditava na primeira possibilidade trazida por Schopenhauer, diria que, diante da morte, devemos mesmo é a aproveitar a vida, pois nosso projeto de ser acabará com ela. O fato é que um dia todos teremos essas respostas. Eu prefiro esperar por muito tempo pelas minhas. 

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