O fim da era de ouro dos mototáxis

Conforme profissionais do ramo ouvidos pela reportagem, após a expansão dos aplicativos de transporte, corridas diminuíram até 90% em Prudente; motociclistas lamentam o cenário

PRUDENTE - PEDRO SILVA

Data 09/11/2019
Horário 08:54
Pedro Silva - Os motociclistas Florisvaldo e Genaro não enxergam perspectiva de melhoras para a categoria
Pedro Silva - Os motociclistas Florisvaldo e Genaro não enxergam perspectiva de melhoras para a categoria

Com as motocicletas estacionadas, os pilotos de mototáxi, que antes quase não paravam de rodar pelas ruas de Presidente Prudente, se lamentam do fim dos tempos quando os aplicativos de transporte não dominavam o mercado na cidade.

Desde que os transportes alternativos chegaram, as empresas de mototáxis começaram a perceber uma queda na procura de serviços. Segundo o mototaxista João Barreto, 58 anos, houve uma queda de 70% nas chamadas solicitadas. A situação é ainda pior para Genaro dos Santos Araújo, 55 anos, que teve uma redução de 90%.

“Está sendo muito difícil. As pessoas só utilizam quando estão muito atrasadas”, comenta João com tristeza. O motociclista está no ramo há dois anos, mas já pensa em abandonar a função. “Eu tenho experiência como motorista, com almoxarifado, então, sempre que eu saio entrego currículos, todo dia”. Apesar da queda na procura, João diz que o dono da Mototáxi Rápido, empresa em que ele presta serviços, não pensa em fechar as portas tão cedo. No entanto, muitos outros colegas dele de profissão já não mais estão no mercado. “Eu fico triste com tudo isso”, pontua.

SEM MUITA

ESPERANÇA

“Está muito ruim isso aí, complicou para todo mundo, muita gente parou, e tem dia que não dá nada”, comenta Genaro de forma eufórica. “Antes dava gosto de trabalhar, agora, esses aplicativos acabaram com a gente, e também com os taxistas”.

Os motociclistas declaram que não são somente os estabelecimentos que estão encerrando as atividades, mas também funcionários estão desistindo da carreira. João diz que antes trabalhava com uma média de 10 colegas. “Com o tempo, o quadro reduziu para seis, e acredito que, em breve, ficará somente o dono e mais dois mototaxistas”, lamenta. Já Genaro comenta que colegas largaram as duas rodas para trabalhar de forma autônoma e agora são motoristas de aplicativo.

“Nós fazemos curso, temos que cadastrar e recadastrar as motos para rodar, mas qualquer um poder ser de aplicativo, isso é supererrado, é um aplicativo que complicou a gente”, opina Genaro, piloto da Richard Mototáxi.

Florisvaldo Dias de Castro, 48 anos, não vê melhora para a classe - visão compartilhada pelos colegas. “Nós estamos indignados, temos mesmo que reclamar”, declara Genaro. “Isso não tem mais jeito não, já era, veio para ficar”, comenta Florisvaldo sobre os aplicativos de transporte, e acredita que sua expansão deve-se também ao desemprego. “Muita gente, em todo o Brasil, virou motorista de aplicativo”, fala.

FAZEM APENAS

VIAGENS PONTUAIS

Segundo João, ainda existem clientes para o mototáxi, porém, o que antes era primeira opção pela agilidade e velocidade, agora é escolhido em casos extremos, como atrasos para o trabalho e corridas de urgência. “Chamam a gente para buscar alguma coisa que foi esquecida, ou se não tem outra opção”, pontua Genaro.

“Mototáxi já foi muito bom. Eu estou nesse ramo há mais de 10 anos”, pontua Genaro. “Não dá mais para manter, só de aluguel aqui é mais de R$ 1 mil, sem contar a manutenção da moto”.  João comenta também a renda que caiu exponencialmente. “A gente tirava R$ 150, R$ 170 por dia. Hoje não passa de R$ 40, R$ 50. Por isso, muitos mototáxis estão fechando. Não dá para fazer a manutenção da motocicleta, comprar pneu, muito menos o combustível”. A mesma situação é vivida por Genaro. “Antes tirava quase R$ 300 por dia. Hoje não chega a R$ 50”, diz entristecido.

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