Ele vai caminhando solitariamente com seu coração ensopado de tristeza. É um palhaço solitário. A sociedade ri dele, o vê como um perdedor. O acha esquisito e sua risada é ridícula. Mas sua mãe diz que ele veio ao mundo para ser feliz. Ninguém se importa, apenas sorriem quando ele cai ao chão de costas abraçado no fracasso. Quer ser apenas engraçado. É a única arma que tem contra a tristeza que sente. Um passageiro da agonia. E não veem seu coração despedaçado pela indiferença, pela violência, pela crueldade e pela hipocrisia da multidão que grita com seus berros perfurando como uma espada, cortando ao meio sua doce inocência. Apenas quer ser amado.
Por que um homem que quer ser apenas engraçado tem que ser humilhado? O destino vai entregando suas cartas nesse jogo cínico. A sociedade vai apresentando sua sombra de uma cultura hipócrita, egoísta, consumista, preconceituosa. Ele se sente um indivíduo tratado como um ser invisível. Vai se transformando, vai se pintando, vai cantando, vai dançando, vai matando, um caos social e psicológico ambulante. Vai deixando de lado o triunfo de um coletivismo que não percebe que empodera justamente quem abre mão da identidade, da racionalidade para fazer da loucura, da anarquia e do caos um modo de vida.
Agora vão saber que ele existe. Ele é o Coringa. A multidão aplaude, o venera e ele se sente amado dizendo: O Coringa sou eu, o Coringa sou eu...
Apenas tem quatro questões na vida importantes, saibam vocês: O que é sagrado? Do que é feito o espírito? Por que vale a pena viver? Por que vale a pena morrer? A resposta para todas é a mesma. Somente o amor. Continue bebendo o veneno da indiferença, vai ter sempre um perdedor nesse jogo cruel da vida. O Coringa abre seu sorriso largo cheio de tristeza e lembra que um dia ele amou alguém que deixou saudades. Ele canta para ele mesmo, If go you way:
"Se você for embora nesse dia de verão
Então você pode também levar o sol
Todos os pássaros que voavam no céu de verão
Quando nosso amor era novo
E nossos corações eram elevados
Quando o dia era jovem
E a noite era longa
E a lua ficava parada
Para a canção dos pássaros noturnos
Se você se for, se você se for..."
O Coringa sou eu, o Coringa sou eu...