O Brasil deve compreender a importância da ciência

EDITORIAL -

Data 04/11/2017
Horário 10:51

A confirmação da riqueza que existe sob o solo de Presidente Prudente se dá nas páginas deste diário hoje, na qual noticiamos o resultado de escavações realizadas em uma área na zona sul da cidade, em maio deste ano. Cerca de mil ossos raros foram encontrados, de uma espécie de ave primitiva da Era dos Dinossauros. Durante o trabalho do grupo de paleontólogos – que reuniu profissionais do Brasil, Estados Unidos e África do Sul – o pesquisador William Nava, já conhecedor da região, lembrou a importância da preservação da área que, a olhos nus, não se difere em nada de um terreno baldio comum, desses que se amontoam pela cidade.

Ele lamentava, inclusive, a perda de fósseis raros no espaço de terra logo ao lado daquele no qual, em uma empreitada braçal, os “doutores” escavavam. Isso porque a área foi vendida e um grande prédio construído, inviabilizando a realização de pesquisas nas proximidades. Presidente Prudente possui um sítio paleontológico do período Cretáceo Superior, tendo entre 70 e 80 milhões de anos, no qual grandes descobertas científicas já foram viabilizadas, mas que permanece desconhecido pela maior parte da população. Tanto que um prédio foi erguido bem em cima sem que ninguém notasse.

É importante que o Poder Público, já ciente desse sítio precioso, preserve a área e torne Prudente memorável por outros temas além de sua pecuária e plantação canavieira. Ainda falta consciência, no Brasil, em todos os órgãos, sobre a importância da pesquisa científica e da necessidade de investimento que essas áreas exigem. Sem investimento em ciência o Brasil não terá solução.

Desde o irromper da recessão econômica, uma das mais graves já enfrentadas pelo país, cientistas e pesquisadores de universidades brasileiras denunciam o corte de investimentos e financiamentos de seus trabalhos. Há ainda aqueles que buscaram campo em outros países, justamente por não encontrar viabilidade em permanecer no Brasil em desamparo e sem área de atuação.  No país, inclusive, não se dissocia a docência da pesquisa científica – o que é extremamente improfícuo por gerar professores ruins que são bons pesquisadores, e o inverso.

De forma completamente diferente, no mesmo continente podemos observar os Estados Unidos que, não só viabiliza que doutores se especializem unicamente em pesquisa, e não necessariamente tenham que lecionar, contando ainda com financiamento privado dos trabalhos, e não apenas do governo. Afinal, essa responsabilidade não deve recair só no colo da União. O empresariado brasileiro precisa se enxergar como parte da sociedade e não mais agir como um parasita, sugando recursos até onde consegue e abandonando o hospedeiro e buscando outro, conforme a sua conveniência. No fim das contas, o grande problema desse país lusófono é a falta de identidade do seu povo.

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