Era uma vez um homem corajoso, que, um dia, recebeu de seu pai uma herança de milhares de alqueires de terra em mata virgem, situados numa fazenda denominada Pirapó-Santo Anastácio, no Oeste do Estado de São Paulo. Seu nome era Francisco de Paula Goulart. Morava, com sua família, em Assis, uma cidade nova, numa região mais nova ainda, comunicada com a capital, pela Estrada de Ferro Sorocabana.
Nesse sertão sorocabano, os trilhos da estrada de ferro rompiam matas e demarcavam-se paradas, que recebiam o nome de estação ferroviária. Sabedor de que os trilhos da estrada de ferro passariam por suas terras, organizou um grupo de trabalhadores sertanistas, entre eles: Guilherme Tomás de Andrade, Américo José Marques, os irmãos José e Francisco Pellegrino, Antônio Malta, Aurélio Jacinto Marques, Simão Antônio Alves, José Amaro dos Reis, Antônio Goulart e o menino Manoel Telles.
Partiram de Assis, embarcando no trem, que, duas vezes por semana, vinha da capital e foram até a estação de Indiana, ponto final da ferrovia. De Indiana até Memória, hoje chamada de Regente Feijó, aproveitaram-se do trem de lastro, que dava suporte aos trabalhadores ferroviários na construção da via férrea. Daí, seguiram a pé, ora por uma estrada boiadeira, ora pelas picadas abertas da ferrovia, até o local Alto do Tamanduá, sito à cabeceira do ribeirão Limoeiro, afluente do rio Santo Anastácio, próximo do quilômetro 800 do prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana.
Aí, Goulart construiu o primeiro rancho para o alojamento de sua caravana de sertanistas e outro, no Córrego do Veado, onde José Claro extraía dormentes para a via férrea. Com seus homens, Goulart explorava a mata e o local.
Em frente à futura estação, onde o pessoal da estrada de ferro trabalhava, imaginou criar o novo núcleo populacional. Solicitou do engenheiro da estrada de ferro, João Carlos Fairbanks, projetasse o mapa da vila, em frente da futura estação de ferro. Fairbanks, com o teodolito às mãos, para locar a estação, forneceu a Goulart a deflexão de noventa graus sobre o rumo da tangente da estação e marcou a divisa entre a fazenda e a cidade, projetando, também, uma larga avenida, a atual Washington Luís, que serviu de base, para Goulart, dias depois, colocar os piquetes das futuras quatro avenidas.
No dia 4 de setembro, Francisco de Paula Goulart e seus companheiros de labuta começaram a derrubada da mata, a fim de fazer o plantio da lavoura de milho, dando início à sua Vila Goulart. Foi um dia trabalhoso, suado, cujo eco das machadadas nos trocos de árvores ecoavam pela floresta, inspirando a passarinhada, que trinava seus cantos de liberdade e de boas vindas àqueles homens valorosos.
A roça de milho acompanhava os piquetes assentados no futuro leito da Estrada de Ferro Sorocabana, desenhando uma longa avenida, hoje a Brasil, de onde sairiam as ruas da futura vila.
Goulart, ao fazer a derrubada da mata, abria caminhos, que, na sua intuição, seriam quadras e lotes. Aliava toda a sua experiência de agrimensor ao sonho que lhe devorava a alma, relacionando fé e ambição, simpatia e trabalho, para enfrentar a dura realidade que adviria desse seu arrojo e heroísmo.
Na tarde desse longo dia de um céu azul-esmeraldino, Goulart olhava a mata diante de si e imaginava, no lugar de cada árvore, uma casa; e enxergava uma cidade fervilhando de progresso. Voltava-se para os machadeiros, e num sonho mágico, dizia-lhes: “meus amigos, aqui é preciso surgir uma capital, ponto de entrada de novos bandeirantes. Cismem esse novo centro urbano. É um trabalho árduo, que vencerá todos os obstáculos”.
Essa visão de 14 de setembro de 1917, em plena mata virgem, Francisco de Paula Goulart e sua mulher dona Izabel concretizaram-na meio século depois, nas festividades do cinquentenário de sua inicial Vila Goulart, ao lado do Prefeito Watal Ishibashi, do representante do governador Abreu Sodré, secretário do governo José Felício Castela- no e de toda a população envolvida de patriotismo, pelos 50 anos de Presidente Prudente, ouvida que foi a profecia: “Quando Deus faz e a história é feita”, inspirada nos versos de Fernando Pessoa.