Nosso cérebro é capaz de "fabricar" felicidade

OPINIÃO - Bruno Saia

Data 25/08/2017
Horário 14:04

O que pode deixar você mais feliz? Ganhar milhões de reais na loteria ou sofrer um acidente e se tornar paraplégico? O psicólogo norte-americano Dan Gilbert comparou as histórias de dois homens que passaram pelas situações descritas e a conclusão foi surpreendente. Depois de um ano, ambos os personagens analisados demonstraram exatamente o mesmo nível de felicidade.

“Isso ocorre, pois a felicidade pode ser sintetizada”, explica o pesquisador que atua na Universidade de Harvard. “Felicidade sintética é o que criamos quando não conseguimos ou não temos o que queremos, é um sentimento criado em resposta a algum acontecimento que vivenciamos e que não esperávamos tê-lo vivenciado”, completa Gilbert. De acordo com o pesquisador, nós supervalorizamos determinados eventos de nossas vidas. “Um divórcio, uma doença ou qualquer derrota pessoal ou profissional são, na verdade, menos determinantes para influenciar nossa capacidade de encontrar a felicidade do que imaginamos”, pontua o pesquisador.

Quando vivenciamos situações positivas ou desejadas, é estimulada a produção de algumas substâncias em nosso cérebro. Segundo endocrinologistas e neurocientistas, podemos encontrar a felicidade a partir de quatro substâncias químicas naturais do corpo humano, neurotransmissores conhecidos como o “quarteto da felicidade”: endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina. “Quando o seu cérebro emite uma dessas químicas, você se sente bem”, afirma a também psicóloga Loretta Breuning. Essas são os mecanismos considerados naturais que nos geram a sensação de felicidade.

Porém, essas substâncias não surgem com frequência e precisam de estímulos para que sejam produzidas. É neste ponto que a nossa capacidade de fabricar a felicidade é fundamental para garantir momentos felizes mesmo diante de situações adversas. Essa “felicidade sintética” é, em todos os aspectos, tão real e durável quanto a felicidade que você obtém quando conquista exatamente o que queria. Outro ponto que é preciso ser destacado é que a felicidade está diretamente relacionada com o relacionamento que mantemos com as pessoas ao nosso redor. Uma pesquisa realizada por James Fowler (Universidade de San Diego) e Nicholas Christakis (Universidade de Harvard), aponta que a felicidade se espalha de forma muito ampla ao longo de uma rede social, atingindo não apenas as pessoas diretamente envolvidas, mas pessoas com até três graus de afastamento de quem é a “fonte da felicidade”.

De acordo com os pesquisadores, em média, cada amigo feliz aumenta sua própria chance de ser feliz em 9%, enquanto cada amigo infeliz diminui essa chance em apenas 7% (portanto a felicidade é mais contagiante do que a tristeza). Além disso, você tem 15% mais probabilidade de ser feliz se for diretamente conectado a uma pessoa feliz; 10% se seu amigo tiver um amigo feliz; e 6% se seu amigo tiver um amigo que tenha um amigo feliz.

Então, como treinar o nosso cérebro para captar o lado positivo das situações? O caminho é permanecer ativo. Quanto mais ativo conseguimos deixar nosso cérebro, mais chances de colocar novas conexões em funcionamento e assim mais aprendizados surgirão, sejam eles cognitivos ou emocionais. Além disso, ajudar o próximo é outra forma de treinar o cérebro para que ele nos proporcione felicidade. Segundo a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, pensar em algo de bom que fizemos a alguém é uma maneira tão eficaz de nos deixar felizes como fazer algo de bom a nós mesmos e isso, porque há a ativação do sistema de recompensa do cérebro. “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade”, nos recorda o escritor e jornalista francês, Georges Bernanos.

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