Nossas vidas no amanhã

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 16/09/2020
Horário 04:55

Um exercício de paciência. Missão de persistência. Uma vida de mais renúncias. Essas três frases servem para circunscrever nossas vidas no amanhã. O biólogo e pesquisador Átila Iamarino dá a dica: “não tem volta mágica para 2019 sem vírus. É uma adaptação pragmática para 2021 com ele”. Portanto, devemos já começar a gigantesca tarefa de fazer as mudanças que se fizerem necessárias para convivermos com os dias futuros. Urge termos consciência dessa necessidade. Não se espere pela volta pura e simples aos dias de ontem, com a manutenção de velhas regras, padrões de comportamento, atitudes e gostos.
A reforma na área dos costumes é uma das mais árduas. Afinal, costume faz parte da tradição, carrega o DNA de todo um processo civilizatório. Mas há de se compreender que a vida segue seu curso e avança na esteira das descobertas e inovações resultantes das pesquisas nas áreas da biologia, biomedicina, inteligência artificial, etc. Portanto, qualquer arranjo no sentido de salvaguardar a integridade da vida é e será bem-vinda.
Como lembram os cientistas, o nosso foco será sempre o dos impulsos inatos aos seres vivos. Analisando as reações do comportamento, Pavlov se vale do exemplo da ameba para explicar os reflexos do ser humano. A ameba foge do perigo, absorve alimentos, multiplica-se, forma quistos dentro dos quais se multiplica em um enxame de pequenas amebas. Por aí, podemos ter a primeira resposta para a questão da metáfora de guerra, tão do gosto dos indivíduos. As pessoas, como as amebas, procuram evitar o perigo e preservar sua espécie. Se um vírus, um Covid qualquer, aparece de repente ameaçando o fluxo vital, o ser vivo tenta dele se afastar, matando-o ou tomando as precauções para que ele desapareça.
Dito isto, emergem as questões: que mudanças, que novos costumes adotar, quais as esferas que deverão ser mais impactadas, a individual ou a coletiva? Com perdão dos amigos da área biomédica, arrisco a inferir que o rol de adaptações assumirá uma proporção circular, sistêmica, abrangente, na medida em que os elos da cadeia da saúde de um povo abrigam mudanças nos padrões e normas governamentais, atitudes pessoais e comportamentos coletivos. Entidades e pessoas físicas deverão entrar na composição, operando as políticas de saúde, com maior controle de cuidados sanitários, programas intensivos de prevenção, inserção de uma visão interdisciplinar, capaz de contemplar o todo e não apenas as partes.
Como fortaleza de defesa de uma nova ordem mundial no campo sanitário, será necessária a chegada ao poder de um núcleo com novas visões, olhar de estadista, empreendedorismo e coragem para enfrentar os infortúnios. Só assim a humanidade será capaz de implantar um regramento que garanta a sobrevivência da espécie, com destaque para a vida saudável do planeta, o que exigirá forte intervenção nas políticas preservacionistas e de melhor distribuição de renda. A continuar a imensa disparidade de classes, os grupos mais poderosos haverão de dar o tom maior e, nesse caso, a orquestra mundial ameaça continuar bastante desafinada.
 

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