Muitas vezes a sociedade taxa alguém por sua simplicidade, compaixão e uma inocência ingênua de idiota. Alguém que busca a bondade e a redenção num mundo marcado pelo egoísmo, corrupção e violência é visto como um bobo. Sua pureza de espirito é mal compreendida e rejeitada pelo materialismo e a hipocrisia de uma sociedade carente de um espírito altruísta. Ser realmente uma pessoa do bem é de fato um absurdo, uma loucura. A beleza moral e espiritual não tem espaço nesse mundo que cultiva a ganância, o cinismo, o egoísmo e a hipocrisia.
O samba filosófico de Noel Rosa, chamado “Filosofia”, expressa essa pureza apegado na filosofia de ser feliz como um genuíno homem ligado à poesia e à visão de um sambista sobre o cotidiano humano. É visto como um vagabundo sem dinheiro no bolso e sem uma família importante. Mas o poeta utiliza a filosofia como uma metáfora para a atitude de indiferença diante das adversidades e da hipocrisia social.
O seu "eu" lírico contradiz tudo que o mundo superficial despreza. Vai vivendo sua vida resistindo o escárnio social. Vai cantando e compondo sambas filosofando, dando ao mundo um cheiro perfumado de poesias e de belas melodias. Muito embora vagabundo, vai sendo escravo do seu samba, sorrindo sabendo que o mundo não vai lhe dar respostas satisfatórias e nem está preocupado se está morrendo de sede ou de fome.
O idiota vai combatendo com seu lirismo o absurdo da sociedade que não aceita a bondade como algo maior. Vão dançando a dança da solidão abraçada no materialismo, obcecado por status, dinheiro e poder. Peço licença a todos vocês para cantar esse lindo samba chamado “Filosofia”, do poeta Noel Rosa, muito embora vagabundo:
"O mundo me condena e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome!
Deixando de saber
Se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome?
Mas, a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente, assim!
Nesta prontidão, sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim!
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga!
Pois, cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba
Muito embora, vagabundo!
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas
Não compra alegria!
Há de viver eternamente
Sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia!
Salve Noel Rosa.