“Verão, flores no chão, cheiram pétalas queimadas, nas areias quentes”. Os versos são de Camila Macedo, 17 anos e estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Fernando Costa (IE) de Presidente Prudente. A pequena poesia é chamada de Haicai e foi uma das cinco premiadas na manhã de ontem na 2ª Mostra IE de Haicai. Originário da cultura japonesa, o poema destaca a natureza – em especial as estações do ano – e é conhecido pelo formato, curto e simples dividido em três linhas de cinco, sete e cinco sílabas. O objetivo da escola é promover, por meio do contato com a cultura oriental, a aproximação dos 1,2 mil estudantes – do 6º ao 3º ano – com a escrita e, principalmente, com o hábito de expressar seus sentimentos.
Idealizadora da ação e professora de Língua Portuguesa, Karina Silva Esmerdel revela que há seis anos a instituição desenvolve uma semana toda voltada para a cultura oriental. Todavia, em 2017, tiveram a decisão de ampliar o evento e transformá-lo na mostra. Além de criar o “Troféu Toshio Koketsuo” que, premia os melhores haicais e incentiva a participação dos alunos. Esse ano, segundo explica, foram 150 estudantes inscritos. Estes que passaram por três processos de seleção. “A produção durou três meses, foi um mês de aulas teóricas sobre haicai, recebemos também o haicaista homenageado, Toshio, que tirou algumas dúvidas. Após isso, tiveram dois meses para a produção que, durante esse período, passou por correções”, explica. No fim, foram 19 selecionados, cinco receberam troféus e todos certificados de honra e mérito.
Cultura faz a diferença na nossa vida, ter acesso a ela e aprender algo novo é enriquecedor
Rosangela Maldonato,
diretora do IE
De acordo com a diretora do IE, Rosangela Maldonato, a cultura japonesa está presente no Brasil há 100 anos e “nada mais justo” que fazer algo para homenagear. “Cultura faz a diferença na nossa vida, ter acesso a ela e aprender algo novo é enriquecedor”, expõe. Quanto às contribuições que o contato cultural tem trazido aos estudantes, ela revela que com o passar dos anos notou uma maior interação dos alunos com a escola. “Percebemos que aqueles que eram mais tímidos estão, aos poucos, se soltando, isso que é o legal, perceber que estamos, de alguma forma, ajudando-os a se expressar”, conta.
APRENDIZADO
Rebeca Gomes Rodrigues tem 18 anos e foi uma das vencedoras na edição passada da mostra. Autora de um haicai sobre o verão, a jovem acredita que a iniciativa fez com que ela aprendesse a lidar melhor com seus sentimentos e a forma de expressá-los. “Ajudou a me relacionar melhor com outras pessoas e perder um pouco da timidez”, relata.
Neste ano, uma das premiadas foi a Camila, autora do haicai que iniciou este texto. Conforme conta, ela não gostava de expor suas ideias na sala de aula e tinha vergonha de falar e escrever sobre o que sentia. Porém, com a ajuda da escola, em especial da professora Karina, a estudante começou a se sentir “confiante”. “Sempre participo da semana da cultura japonesa também, é legal porque conhecemos coisas que nunca imaginamos que existia. Coisas que não são comuns no nosso cotidiano”, explana.
Ludmila Fernandes, 17 anos, também foi uma das premiadas. A jovem diz que escreveu quatro haicais, um de cada estação, e suas principais inspirações vem do cotidiano. “Ando na rua, observo as folhas, flores e penso que seria lindo escrever sobre”, ressalta. De acordo com ela, o fato do IE promover eventos assim é interessante já que “a maioria das escolas não se importa com isso”.
HOMENAGEADO
Toshio Koketsuo esteve presente no evento. O haicaista produz poemas há 12 anos e, segundo ele, não se vê fazendo outra coisa. Nascido e criado em Presidente Prudente, se inspirou na falecida esposa para suas primeiras composições. “Ela faleceu em 2005 e fiquei em uma fase vazia e triste. Comecei a escrever e peguei amor, ela gostava muito de haicais”, rememora.
Sobre a homenagem, o haicaista diz se sentir honrado e que ver o interesse dos jovens em outras culturas é “inspirador”. “Tive contato com alguns haicais e ajudei a seleciona-los, vi ótimas produções, ainda existem alguns ajustes técnicos em questão de estrutura, mas são cosias que a prática ajuda, mas de uma forma geral, são trabalhos muito bons”, conclui.