O sujeito estava ali parado, encostado na traseira do automóvel, um pé no chão, outro apoiado no parachoque. Fumava, e olhava distante aquela árida paisagem. Por algum motivo, usava cachecol, de linho e com a cor do lugar, cor de areia, em tom alaranjado, cor de deserto, cor daquela paisagem. Eu apenas o observava, de longe, sem nem saber o que fazia ali. Talvez nem ele soubesse o que faziamos ali.
Não existem lugares assim no meu país, pensei, com montanhas secas, arbustos pequenos, vento e poeira, insolação e desolação. Preocupações de momento, talvez desnecessárias, melhor mesmo seria lhe pedir um cigarro. Seu carro estava parado a uns 30 metros, bem ao lado da estrada, no acostamento. Caminhei até lá por alguns segundos, o sujeito continuou fumando e com olhar distante, mas quando me aproximei, tirou o maço do bolso e estendeu para mim, dizendo: Tem fogo? Fiz que não com a cabeça e ele estendeu o isqueiro até acender o meu cigarro. Traguei longamente, recostei no parachoque, e ficamos ali, fumando, sem dizer palavra.
Depois de alguns minutos, em que estivemos naquele silêncio, naquela paz momentânea, a ver pássaros ao longe, sentindo o vento e a poeira, aquele cheiro de tabaco e terra, cheiro de gente e de mundo, perguntei: - Sabe me dizer que lugar é esse?
Ele então jogou a ponta do cigarro fora, guardou o isqueiro prateado, que em seus movimentos brilhava ao sol em relances, e sem me olhar nos olhos ou mesmo em minha direção disse:
- Eu não sei, dirigi até aqui sem saber exatamente pra onde estou indo. Cansei das coisas, já não aguento mais, peguei o carro e sai. Apesar disso, sou novo por aqui, saí explorando caminhos e cá estou. Parei pra pensar um pouco, mas logo vou embora. E você? Por acaso está perdido? Foi deixado aqui?
Enquanto ele dizia esses palavras, atônito eu pensava na resposta que poderia dar a essas perguntas. De fato, eu não fazia ideia de como havia ido parar ali. Contudo, estranhamente aquilo deixou de me preocupar. Me sentia vivo, sentia a vivacidade da do corpo, do lugar, dos cheiros e sensações que aquela aridez trazia. Sol forte e clima ameno, sensações do tabaco e do homem.
- Não sei o que dizer, respondi. E completei: Eu dormia, mas de repente acordei e agora estou aqui, existindo.
- Bem, não se aflija, essa é a condição de todos por aqui. Afinal, alguém sabe dizer o que é a vida?
Ventava um pouco mais forte, muita poeira nos envolvia, terminei o cigarro. Pensava na pergunta do sujeito e ele tinha razão. Tentava me lembrar de quem eu era ou que fazia e não me lembrava. Era só consciência do eu sem nome. Eu, simplesmente. Eu cansado, infeliz e impassível. Sem fome, sem dores, sem respostas.
- Vou embora, o sujeito disse. Entrou no carro e se foi.
Continuei ali, conscientemente inconsciente do eu e da árida existência.