Parece-nos a todos que já não se fazem Natais como antigamente, sentimos no âmago uma leve nevoa de nostalgia, uma pontada de saudade… por aquilo que vivemos, por aquilo que esperávamos ter vivido… pela esperança ainda acesa em nós, de que melhores dias virão.
E, de repente, é Natal: aos cânticos e cheiros da época, juntam-se a azáfama e a ansiedade. E no peito, um sabor amargo de já não se fazerem Natais como antigamente. É tudo tão efêmero e vão… ou, pelo menos, assim parece. Lembramo-nos de Jorge de Sena quando disse:
«Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta guerra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?»
Verdadeiramente, já não se fazem Natais como antigamente… felizmente. Deixamos de ser os meros recetores de dávidas e passamos a ser, nós mesmos, construtores ativos do Natal, duendes profícuos nesta fábrica de pequenas e grandes alegrias.
O regozijo já não vem dos presentes ou dos banquetes, do deliciar-se com brinquedos, mas da pura e doce felicidade que conseguimos provocar no olhar e nos corações dos que nos rodeiam. E, neste ano, o Natal deve ser do rejubilo de nos abraçarmos, de nos vermos, de apreciarmos as presenças uns dos outros.
Quer física e presencialmente, quer de forma digital – como ora nos possibilitam as novas tecnologias, este é o momento de nos transformarmos num Pai Natal e oferecermos amor, solidariedade, alegria e sorrisos.
Momento de sermos anjos mensageiros e manufatores das boas novas, da esperança e da paz. Este será sem dúvida um Natal diferente! Munidos desta vontade férrea, transformaremos o mundo, daremos resposta a todos os questionamentos de Jorge de Sena. E rispostaremos em uníssono: «Natal de todos, mesmo daqueles que partilhem de outras crenças e costumes; Natal a todos, paz, amor e justiça, pois construi-lo-emos com as nossas próprias mãos, para que todos dele desfrutem.»
E deste pequeno espaço, de onde são proferidas estas humildes palavras, o cronista abraça toda a comunidade lusófona, todos os países por onde andou, todas as casas, todas as famílias, todas as pessoas maravilhosas, as quais fizeram e ainda fazem parte desta caminhada. Que o espírito destes dias se prolongue, duradoura e plenamente, por todo o ano.