Não há traição quando o cliente está satisfeito

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 11/06/2024
Horário 05:30

Eu havia acabado de dar uma aula de produção de conteúdo para redes sociais e na saída dos alunos percebi que um deles ficou mais para trás, tipo para me perguntar alguma coisa quando todos saíssem. Depois de anos na docência, estes movimentos são manjados.
Bem, daí ele veio e primeiro agradeceu pela aula dada, tirou uma ou duas dúvidas e me falou que já estava trabalhando como social media, que é o nome de quem produz conteúdos em redes sociais para empresas, profissionais liberais ou personalidades. Estava com receio de mostrar o que já havia feito e me pediu com muito cuidado para que avaliasse o trabalho dele. 
Eu tenho realmente muito cuidado ao fazer uma avaliação assim porque normalmente há ajustes a serem realizados, mas também não posso desconsiderar o empreendedorismo da pessoa, que mesmo sem ter todos os conhecimentos, já foi para a linha de batalha e está lá, brigando forte. E melhor ainda: quer evoluir.
Fiz alguns apontamentos do que achava, mas ressaltei que o trabalho dele era muito bom, especialmente porque ele podia avançar ainda mais agora com as aulas que estava tendo na faculdade. Ele tinha bom texto, bons argumentos, arte coerente, sabia engajar e manter o público atento. Bom mesmo. 
E ele ficou bem feliz, só que antes de sair me fez um último pedido: “O senhor pode me emprestar seu celular para uma ligação local? O meu está quebrado. É rapidinho”. Disse que tudo bem, que podia usar. Eu iria terminar de lançar as aulas no diário de classe e ele poderia fazer a ligação. 
Ligou, começou a conversa e pelo que entendi era com um empresário da cidade. Ah, claro que ouvi, né? Estava ao lado. Não me julguem, porque vai ser bom para você que eu tenha ouvido:
- Alô, é do escritório de arquitetura? Poderia falar com o proprietário?
- Alô, pois não? 
- Olá, tudo bem? Eu sou social media e queria saber se o senhor não tem interesse em trabalhar os conteúdos de suas redes sociais?
- Ah, muito obrigado, eu já tenho um social media.
- Entendi, mas olha, eu sou muito bom nisso e produzo conteúdo de maneira muito mais personalizada, focada em seu público-alvo, que vou inclusive pesquisar direitinho quem é para o senhor, sem custo.
- Mas o meu social media já fez essa pesquisa e também produz de forma personalizada.
- Eu posso garantir para o senhor três fatores importantes: frequência de postagens, variação de formatos em texto, áudio, vídeo e foto e ainda eu mesmo produzo as artes, o que agiliza bem todo processo.
- Eita, que o meu social media faz isso também e com arte e tudo. E vou dizer que ele é muito bom no texto, mas ótimo no design.
- O senhor sabe, então, que meu preço é ótimo, muito diferente do que praticam no mercado. O senhor vai gostar de receber uma oferta.
- Olha, muito obrigado pela sua oferta, mas eu realmente não estou interessado. Estou bem satisfeito com meu social media. Muito Obrigado.
- Ok. Eu que agradeço a atenção.
Assim que ele desligou o telefone, enquanto eu digitava no diário, não resisti e falei: “Esse não deu, hein? Mas não desista, tente outro cliente”. 
E ele me respondeu assim:
- Ah não, esse empresário já é meu cliente. Eu estava só fazendo uma pesquisa para saber se ele estava satisfeito com meu trabalho.
 

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