Museu de Arqueologia Regional aguarda visitantes e pesquisadores do país

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 12/05/2016
Horário 11:48
Desde a semana passada está funcionando em Presidente Prudente o Museu de Arqueologia Regional "José Luiz de Morais", no Núcleo Morumbi, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). O espaço tem o objetivo de mostrar para a comunidade local e da região do oeste paulista a história dos índios Kaingang que habitaram no período pré-colonial as áreas do Rio do Peixe e Aguapei e os Guaranis, nas áreas do Paranapanema e Paraná, além dos Kaiapó, que se instalaram ao Norte do Estado de São Paulo.

Segundo a curadora do local, professora Neide Barroca Faccio, do departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, da FCT (Faculdade de Ciências e Tecnologia), este museu que é um presente a todos os pesquisadores da área e a comunidade em geral, é aberto ao público.

O que reforça o professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo), José Luiz de Morais, que dá nome a sala de exposição. Geógrafo de formação, atualmente consultor na área de meio ambiente, na inauguração ele se disse emocionado com tal feito. "Na verdade isso foi uma apropriação da Neide do meu nome . Não sou muito de formalidades, nem aos ritos acadêmicos, sou de Piraju , e digamos que me acho um caipira , e ver isso é emocionante. Uma ex-aluna, meus netos acadêmicos demonstrando tanto carinho a minha pessoa. É gratificante!", exclamou o professor.

 

Sítio

Olavo Santille Ekman Simões, 59 anos, proprietário da Fazenda Guarani, sítio arqueológico riquíssimo da região, também esteve presente na inauguração do museu onde existe uma diversidade de peças do sítio de Iepê.

Conforme ele, a cidade conta com um museu resultante das pesquisas da Unesp em parceria com a Prefeitura, com um acervo de 130 mil peças que já tiveram as curadorias feitas pela equipe da universidade. O local é considerado o de maior acervo de vasilhas Guaranis, inteiras, do Estado.

De acordo com Olavo, o primeiro item importante na vida de uma pessoa é a educação que se recebe. Ele recorda que em 1973/74, seu pai realizou o salvamento de uma arca que ficou submersa. Ele pegava as peças mostrava aos filhos que viam aquilo como algo precioso, um tesouro que ficou guardado. Não se sentiam donos daquela preciosidade e procuraram algumas instituições, mas não encontram ninguém que desse o valor que enxergavam. Em 95, Neide apareceu e doaram a ela um acervo que estava guardado há mais de 20 anos. Ela ficou fascinada, pois não precisou escavar nada, estava ali tudo à sua frente.

De acordo com ele, em 98 houve uma seca muito grande e a propriedade do seu pai que fica nas margens da represa Capivara divisa entre São Paulo e Paraná, conforme a água subia e descia, e a própria natureza se fez responsável por uma escavação onde foi achada uma urna enorme, considerada a maior Guarani já encontrada. A repercussão foi enorme, inclusive na TV.

"Entrei em contato com ela, mas impusemos uma condição. Queríamos dar a oportunidade da cidade criar seu próprio museu e ela concordou. Muitas outras peças foram encontradas... Enfim, conseguimos fazer o museu nascer em Iepê e agora este aqui em Prudente é uma coisa que cria uma identidade, autoestima, pois os índios deixaram e fizeram história por aqui. Em 2012 encontramos uma coletânea de vasilhas e me senti um presenteado em estar diante de algo com mais de 800 anos", frisa.

 

O que ficou

As riquezas que os índios deixaram são muitas, segundo Neide. Desde as cerâmicas incríveis, como um aplique, uma "carinha", encontrada em um sítio em Junqueirópolis que até então nunca tinha sido visto, - até costumes/hábitos que a região herdou. A curadora expõe que a influencia na culinária, bem como nas palavras é bem forte. "No entanto, em 1630 quando as primeiras bandeiras vieram e muitos desses índios foram mortos ou levados de volta ao Paraná eles não se misturaram com a população, então a influencia existe, mas não da convivência, porque eles foram mesmo destruídos, dizimados", acentua.

Neide se emociona e diz que dentre tantos ensinamentos que se deveria ter com os índios, algo que ela admira e muito no trabalho de história oral que faz com os índios de Tupã é ver como as mães tratam seus filhos.

"Elas estão ali palestrando para 50, 60 pessoas e a criança chega senta no colo, pendura no pescoço, como se nada tivesse acontecendo e essas mães agem da mesma forma, naturalmente. Eu fico imaginando no estresse que seria se fosse comigo ou outra pessoa. O respeito que esses grupos têm com suas crianças é fantástico, o que os torna adultos melhores", denota.
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