O tratamento da doença renal crônica gera na mulher problemas com a sexualidade, diante da redução do desejo, insatisfação, oscilação de humor, cansaço físico e fraqueza decorrente da hemodiálise. Estudo científico chega a conclusão da necessidade de ressignificação, de um novo sentido para a qualidade de vida. Para isso é necessária a escuta especializada, associada a sugestão de criação de grupo de apoio. A pesquisa envolveu 30 mulheres de uma instituição de saúde que oferta hemodiálise no interior paulista e foi desenvolvida pela psicóloga Karina Lino Anadão junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, mantido pela Unoeste.
Com orientação da professora Elaine Cristina Negri, a autora do estudo levou em conta a enorme prevalência da doença renal crônica no mundo e o impacto causado nos sistemas de saúde. Com dados de 2021, pontuou que no Brasil são 144,7 mil renais crônicos, dos quais 42% são mulheres, com a predominância de idade variando de 45 a 64 anos, com vida sexual ativa. O país gasta por ano R$ 1,4 bilhão em diálise e transplante. A dificuldade de relacionamento afetivo leva as mulheres à dificuldade de expressar seus desejos sexuais, o que constitui em tabu, no sentido de parecer algo proibido de se falar e, por isso, gera constrangimento.
Estudos em outros países
Mediante roteiro sociodemográfico e entrevistas semiestruturadas, as mulheres participantes da pesquisa, na faixa etária de 35 a 76 anos, foram ouvidas no período de dois meses: dezembro de 2023 a janeiro de 2024. A média de idade ficou em 56,2 anos, com tempo de diálise variando de 6 meses a 30 anos e frequência de relações duas vezes por semana, também em média. São mulheres que revelaram diferentes situações como estranhamento do próprio corpo, por conta do inchaço; fadiga como limitador sexual; ruptura de relação (divórcio); e estigma do olhar para a fístula (acesso vascular para diálise) como se fosse algo contagioso.
Nas discussões formuladas na dissertação e apresentadas na defesa pública, na tarde de segunda-feira (19) desta semana no campus 2 da Unoeste de Presidente Prudente, a autora fez referência a dois estudos internacionais sobre o assunto, ambos publicados no ano passado: um de Uganda, na África Oriental; e outro na Espanha, na Europa. Fato que evidencia a importância da produção científica parta trazer luz a esse problema vivido por mulheres com doença real crônica, pelo mundo afora. Estudos que coloquem em evidência a sexualidade em suas dimensões biopsicossocial, que são a biológica, psicológica e social; com a preocupação de promover qualidade de vida.
Destaque à relevância social
O peso da pesquisa foi evidenciado pelos avaliadores, com elogios à orientanda e orientadora. A relevância social foi colocada em destaque pelo avaliador externo professor Francisco Mayron Morais Soares, da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) em São Luís, de onde participou remotamente; e pela avaliadora interna professora Camélia Santina Murgo, que leciona nos cursos de Psicologia e Medicina da Unoeste, no mestrado e doutorado em Educação, sendo a coordenadora do programa. Para a avaliadora, a temática da dissertação de Karina é tão importante que cabe pensar em inserir a escuta especializada na formação de profissionais da saúde.
Ficou evidente na defesa pública que essa escuta específica precisa ser pensada para além do atendimento humanizado proporcionado multiprofissionalmente. “Existe a necessidade de um olhar específico para essas mulheres”, pontuou Camélia. “É uma temática bastante relevante para mulheres em condições crônicas da doença real, que traz implicações que interferem na qualidade de vida”, disse Mayron. Elaine agradeceu os elogios, a avaliação e a contribuição dos membros da banca sobre a produção de artigo científico, para disseminar tão importante conhecimento produzido na pesquisa. Karina foi aprovada para receber o título de Mestre em Ciências da Saúde.