Mudar hábitos parece simples. Muitas pessoas começam uma dieta, uma rotina de exercícios ou tentam abandonar comportamentos prejudiciais cheias de motivação. No entanto, manter essas mudanças ao longo do tempo é um desafio que frustra a maioria. Daniel Kahneman, psicólogo e ganhador do Prêmio Nobel, nos ajuda a compreender esse dilema através de sua teoria sobre os dois sistemas que guiam o comportamento humano: o Sistema 1 e o Sistema 2.
O Sistema 1 opera no "piloto automático". Ele é rápido e intuitivo. Por exemplo, levantar-se da cama e ir ao banheiro e escovar os dentes não exigem nenhum esforço consciente, são ações naturais porque já estão enraizadas nesse sistema.
Contudo, o Sistema 1 também pode ser responsável por decisões prejudiciais, como escolher um doce quando estamos estressados ou evitar atividades que exigem esforço. Ele busca recompensas rápidas e evita o desconforto.
O Sistema 2, por outro lado, é lento, analítico e deliberado. Ele entra em ação quando tomamos decisões importantes, como iniciar uma dieta ou planejar uma rotina de exercícios. É o Sistema 2 que nos leva a refletir sobre a importância de ter uma vida mais saudável e a estabelecer metas.
O problema é que, embora o Sistema 2 seja excelente para traçar planos, ele consome muita energia mental e não consegue manter-se ativo por longos períodos. Assim, quando o entusiasmo inicial passa, o Sistema 1 tende a assumir o controle, favorecendo comportamentos automáticos que nem sempre estão alinhados com nossos objetivos.
O que nos faz começar um hábito saudável é, geralmente, o desejo de ter uma vida melhor. Decidimos mudar porque queremos mais saúde, disposição ou bem-estar. Essa expectativa é alta e nos dá motivação para dar o primeiro passo. No entanto, sustentar essa mudança ao longo do tempo depende de algo mais profundo: a experiência.
Se a experiência vivida durante a tentativa de mudança não é positiva, a probabilidade de sucesso diminui drasticamente. Por exemplo, alguém que se matricula na academia motivado pela ideia de melhorar sua saúde, mas encontra um ambiente desmotivador, terá dificuldade em manter esse hábito.
Por outro lado, quando a experiência é boa como sentir-se acolhido o Sistema 1 é “treinado” a valorizar o novo hábito. Com o tempo, o comportamento saudável deixa de ser um esforço do Sistema 2 e passa a ser automático, parte da rotina natural.
Esse contraste entre expectativa e experiência explica por que tantas mudanças falham. As pessoas começam motivadas pela ideia de transformação, mas se a realidade encontrada não é agradável ou recompensadora, o novo comportamento não se sustenta.
Se a mudança não demonstra resultados tangíveis ao longo do caminho, ela se torna insustentável. E isso não é fraqueza é o cérebro operando conforme foi programado.
Daniel Kahneman nos mostra que a motivação que nos faz iniciar a mudança não é a mesma que nos faz sustentar esse novo comportamento e sim a experiência que ele nos proporciona positiva ou negativa.