Os alertas acerca das mudanças climáticas vêm sendo dados ao mundo pelo menos desde a década de 1990, e embora grande parte da sociedade veja esses alertas com certo ceticismo e descrédito, seus primeiros efeitos já fazem parte do nosso cotidiano. Os incêndios de grandes proporções que atingiram Presidente Prudente e região na última semana, somados à seca histórica que atinge o Sudeste brasileiro nos últimos três anos, não me deixam mentir.
Cientistas alertam para o risco da seca de 2021 se prolongar por mais tempo e até mesmo se tornar parte de uma realidade assustadora, ou seja, tornar-se regra daqui pra frente. Evidências seguras indicam para uma gradual diminuição do ciclos das chuvas no Sudeste, com risco real de a Amazônia se transformar numa savana e o cerrado se transformar num deserto, impactando o clima no Estado de São Paulo de forma permanente. Depois do frio extremo do último mês, convivemos agora com a seca e o calor extremos e ainda estamos no inverno.
É consenso científico que o advento do sistema capitalista industrial seja o grande responsável por essas mudanças e esses extremos climáticos. A lógica predatória do sistema, que visa crescimento acelerado da produção e do consumo, vem trazendo impactos significativos ao clima desde o século XIX, com aumento gradativo das emissões, do desmatamento, do uso de agrotóxicos, da poluição do ar, dos rios e dos oceanos.
O Brasil, que até 2018 tinha uma das políticas ambientais mais sensatas e elogiadas do planeta, vive um retrocesso e uma desconstrução sem precedentes dessa política. O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que renunciou ao cargo por suspeitas de corrupção em contrabando de madeira ilegal exportada da Amazônia aos Estados Unidos, vem sendo investigado pela Polícia Federal pelo sucesso das suas iniciativas em “passar a boiada”, o que se traduziu no desmonte das políticas de preservação ambiental no país.
Os efeitos mais evidentes desse desmonte são o aumento do desmatamento e das queimadas. Somente em 2020, o aumento do desmatamento foi da ordem de 30% em relação ao ano anterior e das queimadas, 12,7%, enquanto isso, o Ministério gastou apenas 0,4% do previsto para a preservação ambiental. A conjuntura climática global é ruim, mas no Brasil, tudo parece ser um pouco pior.