Há quase 50 anos, sempre na Sexta-Feira Santa, pessoas em busca de cura se reúnem para cravar pregos em volta da figueira centenária localizada no Residencial Jardim São Paulo, em Presidente Prudente. No entanto, ontem, em mais um encontro da tradição, os devotos encontraram jovens conscientizando os adeptos a não praticarem tal ato, para evitar a "morte" da espécie.
O manifesto não agradou aos participantes, que mesmo diante da ação, cravaram os setes pregos, como manda a tradição. Os
conscientizadores, com o apoio do Movimento Juventude Contrários, não impediram a fixação de pregos, mas prometeram que após o encerramento do ato, retirariam todos os itens, assim conforme feito no início da semana, quando mais de 700 pregos foram retirados da árvore. "Não somos contra a religião, respeitamos, mas também devemos respeitar a natureza e preservá-la. Essa espécie está morrendo aos poucos", afirma um dos envolvidos no movimento, Wellington de Sousa Neves.
Mesmo com conscientização, fiéis continuaram perfurando a árvore com pregos, ontem
A tradição foi passada de pai para filho, e agora quem lidera o costume é Jorge Leandro Pieretti, 50. Ele explica que a árvore já estava condenada antes mesmo do início das pregações. Na oportunidade, ele pediu que os jovens respeitassem os fiéis. "Respeitamos o que eles pensam e peço que eles também nos respeitem. Essa figueira já estava condenada", afirma.
O agente de saneamento ambiental, Harinson Leandro de Souza, 32, ajudou na conscientização, conversando com os participantes, pontuando sobre os problemas acarretados à árvore pela perfuração dos pregos. "O prego enferruja dentro da árvore, matando a espécie. Não estamos aqui para proibir ninguém, apenas para argumentar sobre os danos que a tradição está causando a ela", afirma.
A fiel Valeria Cristina, 40, participa pela terceira vez do ato. Neste ano, ela veio agradecer pela cura do filho de 10 anos. "Clamei pela cura da bronquite dele e fui atendida. A fé é muito importante para todos. Eu respeito o que estes moços estão fazendo. Mas existem outras formas de ajudar a natureza", expõe.
A recepcionista Adriana Araújo Maiolini Costa, 45, compartilha da mesma opinião. "Existem outras formas de preservação ambiental e, conforme dito, a figueira já estava condenada. As pessoas vêm aqui em busca de cura, não para agredir a natureza", pondera.