Moradores do Timburi se unem contra aterro

De acordo com movimento, residentes não foram “sequer citados" no Relatório de Impacto Ambiental do empreendimento

PRUDENTE - MELLINA DOMINATO

Data 26/01/2017
Horário 14:30


O Movimento em Defesa do Timburi pretende reunir, no sábado, às 10h, na capela do bairro rural de Presidente Prudente, moradores e autoridades, para tratar da possibilidade de implantação do CGR (Centro de Gerenciamento de Resíduos) em um terreno com extensão superficial de 955.982,29 metros quadrados, localizado na Estrada dos Cem Alqueires. Em nome do movimento, Raul Borges Guimarães diz que as cerca de 200 famílias que residem no bairro são contra a instalação do aterro sanitário no espaço, visto que a localidade e seus residentes não teriam sido "sequer citados" no EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental) que consta no projeto do empreendimento. Para moradores, a implantação do empreendimento no bairro traria "graves prejuízos", já que o local é cercado por nascentes de rios, além de ser rico em diversos tipos de vegetação e vida animal. A intenção do grupo é defender o espaço, bem como os aspectos históricos e econômicos do bairro, no qual os residentes dizem querer permanecer até os seus últimos dias.

Jornal O Imparcial Rodas para jogar conversa fora ao fim de cada dia não faltam entre os moradores

Raul destaca que está em andamento pelo Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) uma solicitação de licenciamento ambiental para construção do aterro no Timburi pela empresa Geo Vision Soluções Ambientais e Energia Ltda, para processamento de toneladas de resíduos sólidos do município e adjacências. "Porém, os moradores destacam que nenhum dos aspectos históricos, culturais e econômicos do local foi considerado no Rima, que sequer cita o bairro. Relatam que há ausência completa de estudo acerca das consequências que tal aterro pode ensejar aos proprietários vizinhos, mais de 200 famílias, produtoras de alimentos", frisa.

O representante dos moradores lembra que o bairro surgiu no início da década de 1920 e faz parte da formação histórica do município. "Trata-se de uma das maiores comunidades rurais de Prudente, que preserva tradições culturais e religiosas. É preciso destacar também a importância econômica do Timburi, uma vez que os agricultores do bairro são produtores de alimentos que abastecem a cidade", relata.

A capela do bairro, onde missas são celebradas todos os primeiros domingos de cada mês, será o palco do encontro entre os moradores para tratar deste "problema". Edificada em área doada pela comunidade local, abriga festas e retiros espirituais, que, segundo Raul, chegam a contar com a participação de 500 jovens por ano.

 

Do café ao gado


Aos 69 anos, Alípio Marques da Cruz conta que mora na mesma propriedade desde que nasceu, cujas terras foram abertas pelas mãos do seu avô, que chegou ao bairro em 1929. Na época, o espaço de 225 alqueires, que fica ao lado do terreno que poderá abrigar o aterro, era todo coberto de mato, espaço que hoje abriga três residências, onde Alípio mora com a esposa, três filhos, duas noras e dois netos. Uma outra filha ainda mora em outra moradia, também no Timburi. "Meu avô, Manoel Marques do Rosário, foi um dos primeiros a chegar nessas terras, em 1929, na época em que construíram a igreja, que era só de tábuas. Ele faleceu quando eu tinha 12 anos e me ensinou muita coisa", conta. Pontua que, no início, a família vivia da lavoura, da plantação de café.

Hoje, Alípio e a família vivem da produção de carne e de leite, os quais são direcionados para frigoríficos e laticínios de Prudente e Álvares Machado. Ainda cria algumas galinhas e vive cercado de cachorros, os quais ajudam os seus filhos Vanderlei e Valdinei Mauro Marques, 39 e 49 anos, a tocarem o gado no fim da tarde. As rodas para jogar conversa fora ao fim de cada dia não faltam. "Já nasci aqui, vivi aqui, então, só saio quando morrer. Esse bairro é tranquilo, mas se trouxerem esse aterro para cá, quem vai poder viver sossegado?", questiona.

"Gosto de morar aqui, por isso jamais vou sair. Tenho dois filhos, de 13 e 16 anos, que também querem morar aqui para sempre. Pensa na qualidade de vida que a gente tem", exalta Valdinei. O mesmo pensamento tem o irmão mais novo. "Gosto demais deste lugar. Ainda pretendo ter meus filhos e criar eles por aqui também", revela.

Narciso Balotari, 67 anos, dono de um sítio no bairro, onde cria 40 cabeças de gado, se diz inconformado com a possibilidade de implantação do aterro. "Onde este povo está com a cabeça? Estamos rodeados de nascentes. Tem que levar este aterro para um lugar deserto, sem nada perto", reclama.

 
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