"Vamos pedir comida nas casas e comemorar com as doações, todos juntos", diz Luiz Ferreira Batista, 36 anos, morador de rua em Presidente Prudente. A celebração de Natal para ele, - dia em que normalmente é compartilhado com a família -, é na rua, reunido com os demais colegas que vivem na mesma situação. Segundo Luiz, é habito dos moradores de rua caminharem em grupos, e a confraternização é feita entre eles com doações de alimentos das pessoas. Ele, que está fora de sua casa ha três anos e meio, diz que possui família, mas "devido às circunstâncias", não volta para casa.
Tiago de Jesus, 33 anos, também morador de rua, comenta que as pessoas sempre contribuem, e são bastante solidárias. "Não passamos fome. Sempre damos um jeito e a população também colabora com alimentos, uma moeda ou outra, e a gente se vira", relata. E eles não se lamentam. "É igual na casa de todo mundo. São meus irmãos", enfatiza Tiago, apontando para o grupo de companheiros.
Moradores de rua costumam passar o Natal reunidos
Assim como ele, a maioria passa por um drama familiar causada pela dependência do álcool e drogas. Alguns apenas álcool, outros drogas, e outros estão nesta situação pelos dois motivos. "Mas não fazemos mal para ninguém. O máximo que fazemos é pedir", destaca Tiago, que saiu de casa há dois anos.
A reportagem abordou um grupo de moradores de rua, próximo ao Terminal Rodoviário Comendador José Lemes Soares, de Prudente, e questionados sobre a data comemorativa, ninguém se lamentou por estar fora do núcleo familiar.
A assistente social do Creas Pop (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua), Andressa Gonçalves da Silva, que acompanha estes casos em Prudente, diz que eles lidam "muito bem" com a vida na rua. "A situação de rua, na maioria das vezes, é uma escolha. Pouquíssimos casos são circunstâncias da vida. Grande parte deles tem familiares e abriu mão de um estilo de vida tradicional para viver de forma alternativa. Por isso, eles não vêem problema nisso, como a gente, por exemplo", esclarece. Alguns ainda recorrem ao Creas para fazer a mediação com a família. "Fazemos o contato, fornecemos a passagem para a cidade dos familiares, mas depois das festas, geralmente, eles retornam para as ruas", relata.
O Creas Pop desenvolve um trabalho de ressocialização e novos projetos de vida. Segundo a assistente social, o centro realiza buscas ativas pela cidade para oferecer apoio, mas a minoria aceita a ajuda. "Não diria que eles são resistentes. Tem o momento para tudo. Às vezes, ainda não é o momento daquele indivíduo. Para que a reestruturação seja efetiva, é necessário que eles queiram mudar", declara Andressa.