Em 1977, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres. A complexidade da luta delas vai para além da questão biológica. As que se identificam com o sexo feminino marcharam nas ruas de Nova York em 8 de março de 1908, há exatos 116 anos, com a exigência de melhores condições de trabalho. Em 1910, durante uma conferência internacional em Copenhague, na Dinamarca, foi proposta a ideia de um dia internacional das mulheres. Sessenta e sete anos depois, a ONU ratificou a data. De Nova York a Copenhague, de Taciba a Presidente Prudente: a luta continua.
A reportagem especial de O Imparcial contou com o auxílio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para trazer as perspectivas de mulheres que mantêm seu meio de renda por meio da atividade empreendedora. De Taciba, Ana Pacheco mantém com muito amor, há 5 anos, os “Sabores da Fazenda”. Ela descreve a gestão de seu negócio como um “doce empreendimento” artesanal e que, mesmo diante da devastadora pandemia da Covid-19, fez florescer a oportunidade de atender sua clientela de maneira exclusiva. “Como resido em um sitio no município de Taciba, os desafios poderiam ter se tornado um fator para não prosseguir, mas foi neste momento que meu maior desejo, o de levar esperança e amor ao próximo, se concretizou através dos meus produtos”, relata Ana, que não possui colaboradores e conta com o apoio de seu esposo e parceiro Valnir, do filho Pedro e da nora Karine.
O principal produto dos “Sabores da Fazenda” são as geleias artesanais, que tornaram a gastronomia, a paixão de Ana desde o início de sua produção, e impulsionaram seu reconhecimento no mercado. No entanto, Ana relata enfrentar desafios típicos de empreendedores de pequenos negócios, especialmente como uma mulher empreendedora na zona rural. Ela destaca as dificuldades com políticas públicas e burocracias, que tornam a exposição de seus produtos em eventos e estabelecimentos comerciais uma tarefa árdua.
Para Ana, o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) é apenas uma formalidade; o verdadeiro impulso às suas vendas vem do reconhecimento e do apoio que recebe. “O fato de ter CNPJ é a formalidade, mas como todo processo acontece por trás deste documento é o relevante para impulsionar nossas vendas”.
Além de buscar o sucesso para si mesma, Ana também se dedica a apoiar outras mulheres empreendedoras. Em seus produtos, como as geleias, ela inclui frutas feitas de crochê por artesãs locais, destacando o trabalho dessas mulheres e fornecendo-lhes visibilidade através de suas redes sociais. “Nas minha dolmas sempre serão vistas frutas feitas de crochê por mulheres artesãs, estas frutas são a minha representatividade visual do que produzo, é a forma mais singela de valorizar meu trabalho e destas mulheres que sonham o meu sonho ao produzirem as frutinhas. Elas acompanham os potes das respectivas geleias em forma de gratidão além de pagar pelo trabalho delas, também divulgo o link das redes sociais para que possa potencializar esta artesã”, relata.
E vai além: “Meu maior orgulho é dizer que do meu trabalho digno de empregada doméstica, nunca deixei de sonhar grande e hoje relato o meu orgulho de ter superado todos os desafios que poderiam ter me levado a desistir, mas eu quero vencer e quero ser exemplo de superação e dizer somos tudo que desejamos ser e escolhi ser empreendedora, levando o meu produto a ser conhecido e reconhecido junto com outras mulheres”, pontua Ana. Você pode acompanhar o empreendimento dela por meio do @saboresdafazendasp no Instagram.
Quem também trabalha com a produção artesanal de geleias é Lucimara Augusto, a Mara Danega. Preta, guerreira e estrategista, Mara relata que a criação do Danega ocorreu há seis anos, em 2018, e, para além de uma necessidade financeira, representou a concretização de um sonho. “Enfrentamos inúmeros desafios, desde superar nossas próprias limitações até a falta de conhecimento específico sobre o setor. Muitas vezes, sonhamos em empreender sem possuir as habilidades administrativas necessárias para gerenciar um negócio ou se destacar em um mercado repleto de grandes marcas. Desde o início, foi essencial adotar uma abordagem profissional e organizacional para estruturar a minha empresa”, pontua a empreendedora.
“Entendi que fidelizar clientes vai além de estratégias de marketing ou de construir uma rede de contatos. Este processo envolve uma compreensão mais profunda do mercado e, como mulher, fiz uso da minha intuição para o empreender. O objetivo é inspirar outras mulheres, mostrando que empreender oferece benefícios que vão além do ganho financeiro. Contribui significativamente para o desenvolvimento do caráter e da autoestima, permitindo conhecer a sua real capacidade, seja gerenciando o lar ou liderando uma empresa”, relata Mara.
Para ela, empreender promove o autoempoderamento, o crescimento pessoal e o desenvolvimento cultural. “Abre portas para o conhecimento em diversas áreas e a oportunidade de interagir com um círculo diversificado de pessoas. Isso facilita a quebra de paradigmas e limitações, especialmente em contextos onde não existem referências de empreendedorismo familiar. Em minha jornada, decidi romper com esse ciclo, não apenas como uma evolução pessoal, mas também para estabelecer um precedente de sucesso e inspiração para outras mulheres. Durante toda essa jornada, fiz uma brilhante descoberta: CPF forte faz um CNPJ poderoso”, indica a Lucimara Augusto, que, além de atuar com a preparação artesanal de conservas, geleias, escabeches e pastas também é técnica em enfermagem.
Fotos: Cedidas
Ana: “Meu maior orgulho é dizer que do meu trabalho digno de empregada doméstica, nunca deixei de sonhar grande”
Mara Danega: “Durante toda essa jornada, fiz uma brilhante descoberta: CPF forte faz um CNPJ poderoso”